Todos estavam lá. Felizes, conversavam alto, riam e se divertiam muito.
Contando histórias, relembrando os bons tempos de crianças, com suas
brincadeiras e travessuras.
Ao longe, o pai os observava em silêncio. Satisfeito, pois, após muito
tempo, a casa enorme, estava cheia novamente.
Era natal.
À distância, via os sorrisos dos filhos, e sentia uma tremenda
felicidade, nesse momento, tentou se lembrar dos momentos de intimidade que
tivera com eles, então, percebeu que não havia tido tais momentos.
Percebeu que, apesar de serem seus filhos e de ter vivido a vida toda
com eles, ele não os conhecia. Não sabia nada da intimidade deles.
Não conhecia seus sonhos. Seus desejos. Suas realizações. Suas
decepções. Não sabia de nada sobre a vida deles. Simplesmente, de nada.
Então, foi tomado por um sentimento nostálgico. De repente a nostalgia
tomou conta de si e passou a lembrar dos momentos em que presenciou sua esposa
e seus filhos conversarem, longamente, por tardes e às vezes, quase dias inteiros.
Lembrou-se também das conversas rápidas e diretas que tivera com eles, tudo se
resumindo a um; “Tudo bem!”
Viveu correndo contra o relógio por toda vida. Sempre dedicado ao
trabalho, vivia viajando e em reuniões intermináveis. Saía de manhã e voltava à
noite, muitas vezes, tarde da noite. Aos sábados, domingos e feriados, vivia
com um telefone na mão conversando com seus subordinados e realizando
relatórios e mais relatórios.
Fez tudo o que se esperava de um bom pai de família. Deu conforto e estudo
a sua esposa e filhos. No entanto, naquele momento, viu que se esquecera dos
relacionamentos familiares. Naquele momento, percebeu que seu relacionamento
com os filhos sempre foi frio, sem vida, sem qualquer familiaridade.
Ao ver sua família reunida sentiu o peso de suas atitudes involuntárias,
mas, atitudes que de certa forma, prejudicaram muito a ele e aos seus filhos.
Olhando seus filhos, tomou uma decisão, sabia que era tardia, mas naquele
momento não se importava. Tinha que mudar. Tinha que mudar sua atitude perante
os filhos, perante a sua família. Ao que restou da sua família. Já havia
perdido a esposa, não podia perder os
filhos.Isso seria demais para ele.
Sua mulher falecera há alguns meses. Desde então se sentia sozinho Triste.
Deprimido. O problema não era só a solidão que sentia. O problema era a culpa
que carregava no seu coração. Viveram vinte anos juntos e ele falhou. Falhou
como pai, falhou como marido. Nunca deu a sua família o valor que ela devia.
Sempre os deixou para o segundo plano. Sua vida se resumira, há trabalho,
trabalho, trabalho e nada mais.
O sentimento de culpa não o abandonava, um segundo sequer. Lembrava-se a
todo o momento dos olhos tristes da esposa. Principalmente, quando ela adoeceu.
E punha-se a imaginar toda a solidão que ela sentira com as suas constantes
ausências. Mesmo, quando ela mais sofria. Mesmo quando ela mais precisava.
Por isso, a partir daquele
momento, fez uma promessa a si mesmo: Não haveria de perder mais nada que a
vida pudesse lhe ofertar.
“Onde já se viu um pai não conhecer seus próprios filhos” – pensou.
Não tinha dúvidas quanto ao amor que seus filhos nutriam por ele, sabia que
o amavam incondicionalmente, mesmo com seus defeitos, que não eram poucos, e
suas limitações, afinal, ele era o pai, o pai que os criara, que lhes dera
abrigo e proteção, que lhes dera um bom futuro. O pai que os amava. Amava do
seu jeito, mas os amava. Isso era uma certeza.
Nesse momento de reflexão sentiu que teria que mudar. Para isso
precisava de coragem.
Vendo os filhos ao longe, respirou fundo e foi na direção deles. Parando
a poucos metros pôs-se a olhá-los, amavelmente. Os filhos sem entender o que
estava acontecendo ficaram em silêncio. Então, um silencio ensurdecedor tomou
conta do ambiente. Todos se olhavam sem saber o que fazer.
Pela primeira vez na vida, os filhos viram seu pai chorar.
Nesse momento descobriam o que tinham que fazer. Lentamente se
aproximaram do pai e o abraçaram ternamente.
- Eu amo vocês! – disse o pai.
Também ouviram o pai dizer, pela primeira vez, algo que sabiam desde o
começo de suas existências, mas que nunca o ouviram dizer. Naquele momento,
abraçados, emocionados, se uniram todos, formando um só corpo. Formando uma só
família.
Uma verdadeira família.
Marc
Souza
Nunca é tarde. Mesmo assim, o amor jamais deve ser deixado por último. Bom dia! Lindo e tocante, o teu texto, Marc.
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