quarta-feira, 25 de setembro de 2013

AMOR ADOLESCENTE


Aqueles dias foram maravilhosos para João Alberto.
Era sua primeira namorada, iam à toda parte, ficavam juntos o tempo todo e apesar de suas poucas idades, João tinha 16 e ela 15, se amavam, se amavam muito.
João Alberto sonhava acordado, e nos seus sonhos, lá estava ela, sempre feliz ao teu lado. Para João Alberto uma coisa parecia certa, ficariam juntos para sempre, para todo o sempre.
Na escola, eram conhecidos por casal 20, e adoravam, é verdade que casal 20 era uma denominação demasiadamente antiga, no entanto, não ligavam, amavam, aliás, seu namoro, era como nos velhos tempos.
João havia pedido a mãe dela para que pudessem namorar, o namoro era em casa, aos olhos do pai, que era muito rigoroso.
Se fossem tomar um sorvete, a irmã mais nova ia junto, mas ele não ligava, o importante para João era estarem juntos.
Ele e sua amada. A sua amada imortal.
Um dia, chamou-a para um piquenique, à beira do rio que cortava a cidade. E lá se foram. Refrigerantes, lanches, salgadinhos, levaram tudo o que precisavam para passar um belo dia juntos, e, o que era melhor, sozinhos, pela primeira vez, estavam a sós.
Que dia, pensava João. Vai ser um dia maravilhoso. Inesquecível.
Acharam uma pequena praia, à beira do rio, e lá, sozinhos, começaram a se beijar, se abraçar, e, de repente, não mais que de repente, transaram.
A primeira vez a gente nunca esquece, principalmente, quando é com quem se ama, eles estavam felizes, muito felizes, e naquele ambiente romântico, transaram novamente.
No final da tarde, voltaram para casa, felizes, suas vidas mudariam, tinham selado seu amor da forma mais bela, e agora, seriam para sempre, um do outro.
Nada mais os separariam.
Tinham feito um pacto.
Um belo pacto.
Tinham se entregado de corpo e alma, de coração, eram agora um só ser, um só coração.
Com certeza, aquele foi o dia mais feliz da vida deles.
Ao acordar no dia seguinte, João Alberto olhou no relógio. Uma hora da tarde. “Meu Deus” pensou “dormi demais”.
Levantou-se, e rapidamente, trocou de roupas e correu em direção à rua.
Sua mãe, que estava na sala de estar, vendo João passar correndo, tentou inutilmente chamar-lhe a atenção.
João correu, correu. Queria ver o seu amor. Queria se certificar de que tudo que passara no dia anterior não era apenas um sonho, então, correu, correu cada vez mais rápido.
Ao chegar à casa dela, tudo estava fechado.
Chamou, chamou, mas não obteve respostas.
“É um pesadelo” pensou. “Estou dormindo ainda e tudo não passa de um pesadelo”.
Chamou novamente, mas ninguém veio atendê-lo.
De repente, uma voz. “O que você quer menino?”
Ao olhar, João percebeu que era a vizinha da frente.
- Não tem ninguém em casa? - perguntou.
- Não, eles se mudaram essa manhã - responderam.
- Para onde?
- Para uma cidadezinha no interior do Piauí.
- Por quê?
- Eu que vou saber.
Naquele momento, João Alberto, sentiu sua primeira dor de amor.
Era como se uma faca tivesse cortado seu coração. Desiludido chorou. E como chorou.
Ao retornar para casa triste, cabisbaixo, sua mãe lhe pergunta o que acontecera, mas ele sequer lhe da atenção e vai para o quarto.
Minutos depois, sua mãe entrou, trazendo consigo uma carta.
- Sua namoradinha veio aqui de manhã e deixou isso aqui para você.
João mostrou-se um pouco animado.
- Ela não quis que eu o chamasse – continuou - disse que você entenderia.
Dizendo isso entregou a carta e saiu.
Era uma carta de despedida.
A carta dizia que ela não teve coragem de contar-lhe sobre a mudança e lhe agradecia pelo belo dia que tiveram, dia que ela levaria até o fim de sua vida, terminando a carta, escreveu “Eu sei que vou te amar”.
Na carta, não havia um endereço, telefone, nada.
João chorou, chorou muito. Seu amor partira. Partira para sempre, e, mesmo que quisesse nunca mais a veria. Nunca mais. Ficara com ele somente a lembrança daquele maravilhoso dia em que se entregaram um ao outro, e uma carta. Nada mais.
Os dias foram passando. Após dias e dias em estado depressivo, aos poucos, ele foi voltando ao normal.
Voltou a jogar futebol, coisa que tinha parado na época do namoro. Voltou a sair à noite com os amigos.
Logo estava namorando. Uma, duas, várias vezes.
Vez ou outra se lembrava de sua primeira namorada, com carinho, talvez com amor.
Mas a vida não para, o tempo não para. Os dias se passaram. Os anos se passaram.
Apesar dos vários namoros ele não conseguia se esquecer dela, dos momentos que viveram juntos. Ao lembrar-se desses momentos, se emocionava, não sabia explicar o porquê, mas a emoção que sentia ao se lembrar dela era incompreensível, incontrolável.
João Alberto se casou e teve dois filhos um menino e uma menina.
O nome da menina ele escolheu em homenagem ao grande amor da sua vida. É claro que sua esposa não sabia, apesar de achar estranho o marido fazer questão de dar o nome à filha, nunca fez questão de perguntar-lhe o por que.
Depois de muito tempo, João passou a pensar muito na sua primeira namorada. Por mais que tentasse não conseguia tirá-la do pensamento. Aquela situação o angustiava. O pior é que ele não sabia o que fazer para por fim naqueles pensamentos, naquelas lembranças que viam à tona a todo o momento. A frase final da carta de despedida escrita por ela ficava martelando na sua cabeça.
“Eu sei que vou te amar”.
Vinham as lembranças e, de novo a frase.
“Eu sei que vou te amar”.
Até dormindo a frase aparecia em seus sonhos, na sua mente.
“Eu sei que vou te amar”.
Um dia, havia chegado do trabalho e estava lendo o jornal, enquanto sua esposa preparava o jantar, então, alguém tocou a campainha do seu apartamento.
Foi atender. Na porta havia um de aproximadamente vinte anos.
- Desculpe senhor por incomodá-lo há essa hora, mas é que eu tenho algo lhe dizer – antes que ele disesse algo, o rapaz completou - É urgente.
- Então diga – responde João.
- O nome do senhor é João Alberto?
- Sim! Por quê?
- O senhor já morou no bairro do Guarantã, próximo ao rio Pirarucu.
- Sim! Por favor meu rapaz, seja mais direto. Estou ficando confuso.
Nesse momento os olhos do rapaz enchem-se de lágrimas, e ele não consegue conter o choro.
- Desculpe... É que... É que... Desculpe novamente, mas é que o senhor é meu pai.
- Pai? Pai? Como assim? Olha garoto, eu não gosto de brincadeiras, ainda mais, brincadeiras deste tipo.
- Eu sinto muito, mas, não é brincadeira não. Eu sou verdadeiramente, seu filho.
- Como assim? Meu filho?
- O nome da minha mãe é Carla. Carla Regina.
Ao ouvir estas palavras João, também se emociona. Tudo se encaixara, pensou. E por mais que se conteve não pôde segurar o choro. Abraçou o filho que acabara de conhecer e com ele, chorou.
Sua esposa chegou a sala e, em silêncio, acompanhou a belíssima cena. Não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Nesse emocionante momento, sentiu-se tocada. Sentiu uma lágrima escorrer dos seus olhos.
 - Desculpe, eu vir até aqui, assim... Sem antes ligar, ou sei lá o quê... É que tudo isso é muito difícil para mim sabe... Eu não quero causar problemas.
- Não se preocupe. Você não esta causando problemas algum. Venha, entre!
- Pai! Ela te amava muito sabia – ele olha envergonhado para esposa de João que observava tudo muito emocionada – Muito mesmo.
Eles novamente trocam abraços.
- Eu não sei o que dizer, filho. Não sei.
- Não diga nada, pai. Nada. Ela nunca deixou de te amar, sabia? Ela me pediu para te dizer isso. Pediu para eu dizer que ela nunca deixou de te amar. Nunca. Ela disse que te amou todos os dias da sua vida, até o final.
- Como assim? Até o final?
- Infelizmente ela nos deixou semana passada. Nos deixou para sempre. Para sempre pai – diz chorando copiosamente, desesperadamente.
- Quer dizer que ela morreu?
- Sim! Morreu! Foi tudo tão rápido.
- Não diga nada – interrompe – Não agora. Eu sinto muito. Muito mesmo.
- Antes de ir embora ela me pediu para vir aqui. Por isso que eu vim, assim. Sem avisar. Talvez se eu esperasse mais um pouco não teria coragem. Mas eu tinha que vim, por minha mãe. Antes que o senhor pense alguma coisa, eu quero que saiba que não vim reclamar...
- Deixa pra lá! Eu não estou pensando em nada. Por favor, a gente não precisa falar sobre isso.
- Pai antes de falecer ela me fez prometer que entregaria ao senhor esta carta. Ela sempre falou muito bem do senhor. Quero que saiba que ela me ensinou a amá-lo também, mesmo sem conhecê-lo.
A esposa de João foi até eles e abraçou ambos. Não sabia o que dizer, mas sentiu que seria boa esta atitude.
Sentindo a compreensão da esposa, João pegou a carta e ao abri-lá leu, “Por toda minha vida eu vou te amar”.


Marc Souza

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