sábado, 7 de setembro de 2013

COISA DE CRIANÇA



  Ao chegar do trabalho encontrou seu filho vestido com roupas novas pronto para sair. Em suas mãos, o menino segurava algumas moedas. Surpreso o pai indaga o filho.
- Aonde vai esse menino bonito? – diz abraçando e beijando o filho, demonstrando muito amor.
- É que eu quero sair papai. E o senhor vai me levar.
- Mas você quer ir hoje?
- Agora!
- Agora?
- É.
- E o que é isso aí? – diz mostrando as pequenas mãos do menino.
- É o meu dinheiro, papai! Todas as minhas economias – responde o garoto.
- Todas as suas economias filho? Por quê? O que o meu garoto quer fazer com todo esse dinheiro? – ironiza.
Apesar da ironia do pai, a criança não se abala e responde sério:
- É quero eu comprar uma coisa para o senhor. Um presente!
- Sei, você quer comprar um presente para mim, com essas moedas?
- Isso mesmo. Eu quero comprar um presente para o senhor com o meu dinheiro. – diz irritado com a forma que seu pai se refere ao seu dinheiro.
- Tudo bem filho. Tudo bem. Desculpa ta? O seu pai é meio bobo.
- O Senhor pode me levar até a cidade?
- Claro! É claro que posso, filho! Amanhã de manhã iremos. – diz não dando muita atenção – Amanhã de manhã. Agora...
- Amanhã não! – diz o menino, segurando a calça do pai - Hoje! Tem que ser hoje, por favor! – continua de forma intransigente.
- Mas... – diz o pai, tranquilamente, procurando uma forma de não magoar o filho - O que você quer comprar para mim de tão importante, que não pode esperar até amanhã?
- É segredo! – responde sorrindo – Só posso dizer que é uma coisa que o senhor vai gostar muito. Muitão.
- Que bom! Vou ganhar um presente. Um presente que vou gostar muito.
- Sim, o senhor vai ganhar um bom presente. O melhor. – diz orgulhoso.
- E esse tal presente que você vai me comprar da para comprar com as suas economias?
- Eu acho que sim.
- Ah! Vem cá, como você sabe que eu vou gostar deste presente? Como você sabe que este será o melhor?
- É que eu ouvi as pessoas dizerem por aí que o senhor está precisando muito do que eu decidi comprar. Muito mesmo.
- É? É verdade? – indaga curiosamente.
- Isso mesmo!
- E onde você ouviu isso? – a curiosidade cresce.
- Ah, papai em todo lugar.
- Em todo o lugar? Aonde você vai tanto assim, que as pessoas dizem que eu estou precisando de algo?
- Em todo o lugar que me conhecem, até na televisão eu ouvi isso. Até na tv eu ouvi as pessoas dizerem que o senhor esta precisando do que eu vou comprar.
- Até na tv? Olha você esta me deixando curioso pra saber o que é. Você sabe aonde vamos?
- Ainda não, mas, tenho certeza que vou achar. Certeza absoluta.
- Quem sabe você me dizendo o que deseja comprar eu posso ajudá-lo.
- Acho melhor não, é surpresa.
- Mas se você não disser...
- Pode ficar tranqüilo que a gente acha papai.
- Então ta bom. Mas se você me dissesse iríamos mais rápido, e poderíamos até pechinchar um preço bom.
- Um preço bom?
- É, você poderia economizar seu rico dinheirinho.
- O senhor tem razão.
- Então?
- Sabe o que é papai, é que eu quero comprar para o senhor é um sentimento.
- Sentimento?
- É.
- Mas filho, eu não quero te decepcionar, mas sentimentos não se vendem. Eu sinto muito! Sentimentos nascem com o ser humano.
- Então?
- Eu sinto muito filhinho... Muito mesmo...
O menino vai saindo triste, desiludido, o que corta o coração do pai.
- Filho, venha cá. O que seu pai esta precisando tanto, que você quer comprar com tamanha urgência. Qual sentimento é este que o seu pai não tem, que você quer tanto lhe dar?
- Não é que o senhor não tem, é que o do senhor está ruim.
- Ruim? Como assim?
- É que em todo lugar que eu vou e até mesmo na televisão, todos dizem que o senhor é um político mau caráter. Então pensei, que, se o caráter do senhor está mal, é só substituí-lo por um bom, aí, ninguém mais falaria do caráter do senhor.



Marc Souza

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