Aquele parecia um cenário de guerra.
Um caos. Uma desordem total. De repente onde havia casas se transformou em um
cenário desolador. Vazio. Sem vida. Cheirando a morte. A encosta não agüentou a
força das chuvas dos últimos dias. Cedeu. Destruindo tudo à sua frente.
Destruindo sonhos. Destruindo vidas.
Não demorou para que o socorro
viesse. O problema era que não havia mais nada no local. Tudo havia se perdido.
Tudo estava soterrado. O desespero era total. Ninguém sabia quantas casas ou
quantas pessoas moravam ali. Com sorte algumas poucas pessoas. O problema era
que era noite quando tudo aconteceu. Uma
noite de domingo. Portanto, todos que ali estavam esperavam pelo pior.
Não demorou para que uma equipe de
resgate e alguns populares começassem o trabalho. Procuravam retirar a lama
como podiam. Usavam pedaços de madeira, pás, enxadas, mãos. Trabalhavam rápido.
Com o passar do tempo a tensão aumentava afinal a possibilidade de encontrar
alguém com vida naquela situação a cada minuto diminuía. Mas, ninguém desistia.
Trabalhavam incessantemente. Incansavelmente.
De repente ele avista uma mulher ao
longe. Sobre um monte de escombros ela parece estar procurando algo, ou,
alguém. Diante do risco de mais um desabamento grita. Pede para que ela saia do
lugar, mas, não é atendido. A mulher ignora totalmente os pedidos dele. E,
continua ali, naquele monte de nada. Procurando sabe se lá o quê.
Então, ele vai até o local, onde ela
está. De repente aquela figura que estava sobre os escombros some, desaparece.
A principio ele pensa em desistir. Pensa que está louco. Vendo coisas. Mas,
algo faz com que continue. Com que vá em frente. É quando ouve um barulho.
Depois outro. “Meu Deus” – pensa – “Tem alguém aqui”
- Tem alguém aqui – diz baixinho –
Tem alguém aqui – grita, logo várias pessoas correm ao seu encontro.
Ele se ajoelha e com as mãos começa
a cavoucar. Vai retirando a lama e tudo o mais que encontra o mais rápido
possível. Lágrimas de alegria descem do seu rosto. E, apesar das mãos
machucadas pelos destroços de terra, pedra e madeira, não desiste, vai rançando
as coisas, até chegar a um bolsão de ar segurado por uma porta de madeira. Em
baixo, ouve baixinho uma voz feminina. Ela reza.
- Ave Maria cheia de graça...
A porta é retirada, e, abraçada a uma
imagem de Nossa Senhora esta ela. Uma mulher de sessenta, sessenta e cinco
anos, rezando. Com fé. Rezando com esperança. Ao vê-lo ela sorri.
- Eu sabia que vocês viriam – disse
ela.
A comoção toma conta de todos. De
repente todos se abraçam e choram. E rezam, agradecem pelo milagre que acabaram
de presenciar.
- Como você sabia que havia alguém aqui?
– perguntam para ele – Nós estávamos tão longe.
- Foi uma mulher que avistei sobre
este local. Quando vim até aqui para pedir que ela saísse, por causa do risco
de desabamento. Ouvi um barulho e...
- Uma mulher? Você viu uma mulher?
- Sim uma mulher – diz olhando à sua
volta, mas, não percebe nenhuma presença feminina no local.
- Você tem certeza?
- Claro! Quer dizer eu acho...
A mulher salva vem em sua direção,
emocionada o abraça.
- Muito obrigada – diz ela – Muito
obrigada. Foi um milagre. Um milagre.
- Por nada – diz constrangido, pois
não sabe explicar direito o que aconteceu, ele tem certeza que viu uma mulher
naquele local, mas ela simplesmente desapareceu sem deixar rastros.
- Algum problema? – pergunta a mulher percebendo um certo desconforto
dele.
- Sabe o que é, é que eu poderia jurar que havia uma mulher onde a
senhora estava. Ela que me guiou até lá. Mas, ela simplesmente sumiu. Desapareceu.
Eu... Desculpe, mas eu não consigo explicar o que aconteceu... Não consigo.
- Não se preocupe em achá-la, filho.
Não se preocupe com isso. Eu sei muito
bem quem ela é. E, se esta preocupado achando que está louco. Você não está.
Afinal, havia sim uma mulher lá. Ela te guiou até mim. E eu também sou muito
grata a ela por isso. Até lhe agradeci
por este milagre.
- Então a senhora a viu também? –
diz olhando para o amigo ao lado.
- É claro. Ela esta aqui – diz
mostrando a imagem de Nossa Senhora.
De repente vem à
sua mente a imagem que vira nos escombros. Emocionado, cai de joelhos diante da
imagem e chora. Agradece por ter feito parte de um milagre. Do milagre da vida.
Marc Souza
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