domingo, 15 de setembro de 2013

LINHAS TORTAS



Naquele momento ele só tinha uma certeza; Não tinha sorte. Definitivamente a sorte nunca esteve a seu lado. Por isso estava decidido a dar cabo de sua vida. Por isso, estava ali, sobre o viaduto esperando o momento certo para se jogar, e, acabar de vez com todo o sofrimento que sua vida havia se transformado.
            Tenta se jogar, uma, duas vezes, mas a coragem lhe falta. Apesar do turbilhão de sentimentos negativos que lhe acomete, não consegue e se jogar. Por um momento, desiste. Fica em silêncio lembrando da sua vida. Lembrando dos fatos que ocorreram até tomar a fatídica decisão de acabar com a sua vida. Sua pobre e desgraçada vida.
            Naquele momento lembrou-se de todos os insucessos que teve na sua breve vida. De todas as decepções que passou. Lembrou-se da sua falta de tato nos negócios. Da sua falta de sorte com empregos. E, principalmente na sua falta de sorte no amor.
            Para ele, a sorte nunca o acompanhou. A sorte nunca estivera presente na sua vida, nunca. Nada do que fazia dava certo. Nada. Definitivamente. Por isso chegou a conclusão de que não merecia mais viver, nem por um minuto sequer.Então, em uma fração de segundo, sua coragem voltou, e, sem pensar em mais nada, se jogou do viadiuto. Vindo a cair sobre um caminhão que passava logo abaixo. Um caminhão  de estrume.
            Passando logo abaixo, um caminhão de estrume amorteceu a sua queda. Uma dor forte tomou conta do seu corpo. “Merda” – pensou – “Será que nem para morrer eu...” “Isso aqui é merda mesmo”.
            Ficou desesperado. Ficou indignado. Naquele momento, o que mais queria na vida era morrer, mas, nem para isso tinha sorte. Nem para isso.
            Ele desce do caminhão quando ele para no sinal vermelho. Desce sob os olhares das pessoas que passam olhando-o, se divertindo com a situação. Envergonhado, por estar todo sujo, e, principalmente pelo que acabara de tentar fazer, sai correndo pela rua. Corre sem olhar para traz. Ao chegar em casa, tira a roupa e toma uma banho, quando uma idéia vem a sua cabeça. Uma grande idéia. “Mas será que vai dar certo” – pensa – “Não tenho...”
            De repente despe-se do medo. De repente resolve se jogar de cara na idéia que acabou de ter. Se jogar na vida. Se entregar, afinal, se der errado ser a só mais uma vez. A decepção sempre foi sua companheira, portanto...
            No outro dia de manhã, vai ao banco, contrata um empréstimo e abre uma empresa de adubo orgânico.
            Os dias passam. Passam. Passam.
            Alguns anos depois, ele esta com a namorada quando começam a falar sobre o casamento.
            - Quero que o nosso casamento seja no dia 25 de abril. – diz ele – O dia em que nasci. O que você acha?
            - Para mim tudo bem. Mas, amor, você não nasceu no dia 22 de dezembro?
            - É verdade. Mas, é que no dia 25 de abril descobri que, na vida, nada é por acaso. Que sempre tem uma força maior que move a nossa vida. Que nos guia. Que nos protege. No dia 25 de abril, eu nasci de verdade. Nasci para uma nova vida, depois de ter ficado na merda. Definitivamente, na merda.



Marc Souza

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