domingo, 1 de setembro de 2013

AMOR ESTRANHO AMOR



AMOR ESTRANHO AMOR
           
Ela o conheceu de maneira inusitada. Um belo dia, ou  não tão belo assim, quando estava há poucos metros de sua casa, fora assaltada por ele. A principio, sentiu raiva, indignação. Afinal, como um rapaz daquela idade que poderia estar trabalhando ficava roubando bolsas de mocinhas indefesas. Principalmente, quando em uma destas bolsas, havia quase todo o salário do mês e o inseparável smarthfone, comprado em dez parcelas, sendo que faltavam ainda oito para acabar de pagar.
            Depois, veio a aceitação dos fatos: “Poderia ter sido pior” dizia ela. “Ele foi até bem educado” frisava.
Bem educado? Na verdade ninguém entendia quando ela dizia isso, afinal, que a situação poderia ter sido pior, isso era um fato. Uma realidade. Agora, dizer que o ladrão fora até bem educado... Na verdade todos acreditavam que ao falar sobre a educação do assaltante ela procurava minimizar os fatos. A “educação” do assaltante era uma forma de defesa que encontrara, para não se desesperar diante da situação que vivera. Alguns amigos sugeriram que ela procurasse um psicólogo, mas, a sugestão não foi aceita.
Com o passar dos dias tudo voltou ao normal. Sua rotina diária era rigorosamente cumprida. Saía de manhã para o trabalho e retornava somente no inicio da noite, onde após o jantar ficava assistindo a tv até adormecer no sofá. No entanto, algo em seu intimo mudou. Todos os dias ficava pensando no que lhe ocorrera. Todos os dias lembrava-se, com detalhes, do assalto que sofrera. Não, ela não ficou traumatizada, com o ocorrido, na verdade, ela ficou apaixonada pelo seu algoz. Perdidamente apaixonada. Lembrava cada detalhe do assaltante. Seu rosto. Seus olhos. Seu jeito de falar. Não conseguia esquecer, que, mesmo naquela situação limite. Mesmo naquela situação de extremo nervosismo. Ele fora educado. Muito educado. E isso fez brotar em seu coração o amor.
Todos os dias passava pelo local onde o conheceu e ficava torcendo para que ele aparecesse. Dissesse um oi. Ou até mesmo que lhe assaltasse novamente. Queria vê-lo. Ouvir sua voz. Estava ficando louca, claro, mas, não conseguia mandar em seu coração. Não conseguia.
Então um dia algo inusitado aconteceu, quando retornava do trabalho, la estava ele, lindo. Maravilhoso. Tão logo a viu, foi ao seu encontro. Ela não teve medo. De repente sentiu-se feliz. De repente sentiu os deuses sorrindo para ela. Então, quando ele chegou bem perto dela ela estendendo a mão disse-lhe.
- Eu sei o que você quer. Você pode até levá-la, mas tem uma condição. – não entendendo nada, ele resolve sair dalí, mas ela continua – Não se preocupe, não vou chamar a polícia. Não vou te denunciar. Se você quer minha bolsa, terá ela. Mas terá que me levar em casa. – ele fica imóvel – É pegar ou largar. Ou você quer que eu grite.
Sem alternativa, levou-a para casa. No caminho, ela contou tudo sobre a sua vida. Sobre seu trabalho. Sobre seus sonhos. Contou até que morava sozinha. E que saía de manhã e só retornava no começo da noite. Ao chegar em casa o pagamento. Deu-lhe a bolsa e entrou.  Feliz. Realizada. Quanto a ele, apesar de não entender nada, saiu pela rua todo feliz, afinal, nunca ganhara um dinheiro tão fácil.
Neste dia ela dormiu maravilhosamente bem. Feliz. Realizada. Apaixonada.
No outro dia de manhã, levantou-se bem cedo. Pediu demissão do trabalho. Arrumou toda a casa. Então, ao pegar uma garrafa de vinho para colocar na geladeira, abateu-lhe uma terrível dúvida:
“Será que ele gosta de vinho branco, ou rose?“

Marc Souza                   

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