segunda-feira, 9 de setembro de 2013

VINTE ANOS


            Vinte anos se passaram desde o dia em que envolto na esperança de uma vida melhor deixou aquela cidade. Naquela longínqua data, carregado de sonhos e esperança entrou no ônibus e partiu. Partiu para nunca mais voltar. Ou para quase nunca mais, pois, naquele exato momento, havia retornado ao passado. Retornando à cidade que há muito havia deixado, e que, apesar do tempo, sempre esteve viva em sua memória.
            Desde que partiu muitas coisas em sua vida mudou. Afinal, era somente um menino. Longe dali, tornou-se um homem. Casou-se. Teve filhos. E, dentro das possibilidades que a vida lhe impôs, venceu. Mas nunca, nunca se esqueceu daquela cidade. Cidade onde nasceu. Cresceu. Cidade onde viveu momentos de pura inocência. O primeiro amor. O primeiro beijo. As primeiras decepções. Cidade onde tudo começou. Onde sua vida começou.
            Agora estava ele, descendo do ônibus feliz por ter retornado. Feliz por estar ali. O ar puro da cidade rapidamente limpou os seus pulmões contaminados pela poluição da cidade grande. Sentiu-se bem. Sentiu-se livre. Como um pássaro a voar pelo céu azul.
            Fechou os olhos e pôs-se a imaginar a cidade como era antes de sua partida. Primeiro imaginou a rodoviária, e, ao abrir os olhos viu que tudo havia mudado. Ela estava maior. Muito maior. Então, sentiu uma pontinha de decepção. Não imaginava que ela estaria tão grande. Aquele ar de pequena cidade parecia estar desaparecendo.
            Passado a decepção inicial começou a andar pela cidade. Procurava ao menos resquícios daquela cidade de vinte anos atrás. No entanto, nada encontrou. Tudo estava diferente. Tudo havia mudado. As ruas. As casas. Os prédios. E, principalmente as pessoas.
            De repente, começou a se desesperar. Começou a procurar as pessoas que fizeram parte da sua vida. Queria vê-las, abraça-las, beijá-las. Queria que elas estivessem bem, como ele. Queria agradecer-lhes, por terem feito parte de sua vida. Queria desculpar-se de algumas. Mas, em vão.
            Neste momento, caiu em si e se deu conta de que as coisas que ele procurava, as pessoas que ele procurava, não existiam mais. Não como ele esperava. Não como ele queria. Percebeu que, o que ele realmente procurava estava somente guardado no fundo do seu coração. O ar da cidade, seu clima, seu cheiro. As casas simples. As ruas quietas. As crianças brincando na praça. Os cantos dos pássaros. E até seus amigos. Amigos “inseparáveis”. Tudo não existia mais. Tudo havia mudado.
            Foi aí, que percebeu que ele também havia mudado. É claro que muitos dos seus amigos ainda estavam lá. Moravam lá. Mas, nada estava como era antes. O tempo passou e, transformou-os. Como o transformou. Alguns, para melhor, outros, nem tanto. Afinal a ação do tempo é transformadora. Quando se deu conta disso, sentiu-se livre. Sentiu-se feliz. Voltou à rodoviária, tomou o ônibus e voltou para casa.
Deixou o passado no passado e se viu livre para viver o presente e buscar um futuro ainda melhor.
Guardando os momentos passados em sua memória e, para sempre, no fundo do seu coração.
Para todo o sempre.
           
            Marc Souza 

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