quinta-feira, 17 de março de 2016

"Não existe mais censura, as minorias que não tinham voz", diz pesquisadora

Os anos da ditadura militar no Brasil foram marcados pela censura na imprensa e arte, e também em um gênero de cinema que flertava com os "maus costumes" como a pornochanchada. Um tipo de comédia erótica popular nos anos 1960 e 1970 que, diferentemente do que nome sugere, não continha sexo explícito. A instalação "Prazeres Proibidos", exposta no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, traz exemplos dos curiosos critérios para cortes nas pornochanchadas, além de discutir o legado que o período de censura do Estado deixou até os dias de hoje no Brasil.
A criadora do projeto, a cineasta e artista visual Fernanda Pessoa, defende que a instalação também tem o papel de questionar o uso atual do termo "censura", muito empregado hoje em dia para contestar protestos de minorias.
"Não existe mais censura, as minorias é que antes não tinham voz", disse Fernanda Pessoa ao UOL. "Muitos desses filmes da pornochanchada têm uma visão muito machista. Se eles saíssem hoje em dia eles seriam vistos como machistas e certamente haveria protestos. Isso que muitos chamam de 'patrulha' nada mais é do que esses grupos antes silenciados, como negros, homossexuais e mulheres, exercendo seu direito de liberdade de expressão e dizendo que não aceitam algo. Esses protestos não são censura, são justamente resultado do fim da censura."
A instalação, criada a partir de uma pesquisa de quatro anos que envolveu 150 filmes e mais de 400 pareceres de censura, é composta por três espaços. Em um corredor inicial, um projetor mostra a sombra do visitante contra uma parede branca. Em seguida, uma sala traz diversos gabinetes com documentos de censura iluminados, que mostram particularidades curiosas do que os censores escolheram cortar. Um último ambiente apresenta em loop uma seleção de trechos de filmes que foram cortados a pedido dos censores.
O Kama Sutra da censura
Ler hoje os pareceres da censura é como montar um quebra-cabeças tentando entender os critérios do que é censurado, encontrando alguns momentos de humor inadvertido. O censor de "A Ilha dos Prazeres Proibidos", por exemplo, por algum motivo mandou retirar das cenas de sexo especificamente os planos em que mulher ficava sobre o homem. "Retirar a tomada em que Sérgio deitado sobre Ana e a coloca por cima" e "retirar a tomada seguinte, que apresenta Ana montada sobre Sérgio", escreveu.
"Dependia muito do censor, alguns censores se apegavam mais no palavrão, têm outros que é mais na simulação do sexo, ou na nudez feminina," explica Fernanda. "A simulação de sexo tinha limites. Podia mostrar se o casal estava de longe, mas um plano muito próximo não podia, alguns enquadramentos eles também não aceitavam. Mas coisas que sempre eram censuradas eram palavrões e piadas de duplo sentido. Outra coisa que encontrei muito em documentos era corte de cenas de urinar na rua. Você percebe uma mentalidade de 'o brasileiro é muito burro para entender, se ele ver algo no cinema ele vai querer fazer'. Uma ideia de arte para ensinar, uma arte moralizadora."
Fernanda diz que parte dessa variação entre os critérios vinha do fato de que muitos censores eram na verdade funcionários públicos originários de funções que nada tinham a ver com arte.
"Quando o departamento de censura foi para Brasília, houve uma falta de pessoal. Então relocaram para ser censor pessoas de posições do Ministério da Agricultura, por exemplo. Eles passavam por um cursinho de como ser censor com várias matérias, como psicologia, filosofia, técnicas de cinema. Uma das matérias era segurança nacional, para tentar identificar se os cineastas estavam tentando colocar mensagens subliminares subversivas ou comunistas nos filmes."
O "jeitinho" para burlar a censura
Conforme a década de 1970 avançava, os produtores e diretores de filmes de pornochanchada testavam os limites, e usavam alguns artifícios para tentar dar um jeitinho de burlar a censura.
"Uma tática que usavam muito era filmar um plano muito ousado já sabendo que aquele plano seria censurado," conta Fernanda. "Tinham assim uma moeda de troca na negociação para que outras cenas permanecessem. Mas às vezes, um plano desses feito para ser cortado acabava passando, e os filmes iam cada vez mais longe."
Outra estratégia usada era o chamado "voz out", que é cortar o som de um palavrão proibido, mas manter em cena o ator claramente pronunciando a palavra, para que ela fosse compreendida pelo público. Isso acabava fazendo com que a tentativa de censurar saísse pela culatra, já que chamava mais a atenção do que se o ator tivesse dito a palavra "vulgar" em voz alta.
"Tem um filme chamado 'Os Mansos' que tem entre suas histórias uma que queriam chamar de 'A Bunda de Ouro', sobre um sujeito obcecado por bundas", conta Fernanda. "Mas a censura disse que não podia ter 'bunda' no título, aí trocaram para 'A B... de Ouro', que ficou parecendo que era algo pior ainda. Em uma cena o ator está sobre um oásis de areia e grita 'buuunda' sem som nenhum porque mandaram cortar, o que acabou chamando mais atenção também."
De censura moral para a censura política
Os anos 1980 selaram o fim da pornochanchada com a chegada dos filmes de sexo explícito. Tudo começou com o curioso caso de um adolescente entrando em uma sessão prévia do cinema para ver um filme "impróprio", o japonês "O Império dos Sentidos". O adolescente era Paulo Abi-Ackel, atual deputado do PSDB, filho do ministro da justiça da época, Ibrahim Abi-Ackel. No escândalo subsequente, foram criadas salas especiais para os filmes de sexo explícito.
"O primeiro filme brasileiro de sexo explícito dessa época foi o 'Coisas Eróticas', com uma bilheteria gigante. Os exibidores começaram a ter uma demanda por esse tipo de filme, mas também perceberam que era mais barato comprar os filmes americanos para serem exibidos," diz Fernanda. "Então pararam de ter interesse em financiar filmes que só tinham simulação de sexo, acabando de um dia para outro com a pornochanchada. E muitos produtores da Boca do Lixo migraram para o sexo explícito."
"Quando criam os cinemas especiais, a questão moral e sexual passou a ser menos censurada, já que conseguiram colocar todos os filmes de sexo em um lugar isolado, longe da 'Família Brasileira'", diz Fernanda. "A preocupação da censura passa a ser maior na questão política. Em 1982, por exemplo, foi lançado o 'Pra Frente, Brasil', um filme que mostra tortura e que foi muito perseguido".
O legado atual da censura
Para a cineasta, o período de censura durante a ditadura militar traz reflexos até hoje para o país. "A autocensura foi algo que sobreviveu desse período. Nos jornais a partir de determinado momento não havia um censor presente, mas eles sabiam que não podiam falar sobre um determinado assunto polêmico, portanto nem o abordavam. E isso transformou diversos temas em tabus. Até hoje têm assuntos sobre a própria ditadura sobre os quais não se fala, apesar da anistia."
Fernanda diz que por essa autocensura encontrou dificuldade para financiar o seu longa, "Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava", uma releitura histórica dos anos 1970 a partir de imagens de filmes da pornochanchada, e que está sendo finalizado. "O longa fala sobre ditadura e pornochanchada, e por isso foi muito difícil. O projeto estava aprovado no Proac ICMS [programa de fomento do Governo do Estado de São Paulo] e apresentei ele para muitas empresas. A maioria delas achava o projeto legal, criativo, bacana, mas respondia que a política da empresa era não patrocinar nada que se relacionasse a assuntos políticos. O MIS foi o primeiro a realmente apostar na minha proposta sobre dois assuntos que ainda são tabu na nossa história: a ditadura militar e a pornochanchada".
Outro reflexo dessa época, para a cineasta, é a própria classificação indicativa dos filmes, que existe até hoje. "Nos anos 1980 os filmes foram reexaminados para terem o certificado de censura para TV. Além de indicar cortes, eles decidiram a classificação indicativa, que antes existia apenas para os filmes do cinema. Até hoje o STF discute o quanto a classificação indicativa ainda é uma censura, uma reflexão que eu queria provocar no visitante da exposição."
Serviço:
Prazeres Proibidos
Quando: até 27 de março, ter. a sex.: 10h às 20h; sáb.: 9h às 21h; dom. e feriados: 11h às 19h
Onde: MIS (Museu da Imagem e do Som) - Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo - SP
Quanto: Gratuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos

Com Jesus coadjuvante, filme bíblico "Ressurreição" discute o perdão

Quando se trata de retratar Jesus no cinema, o que em geral se faz é ressaltar duas de suas imagens míticas mais poderosas: a do mártir e a do super-herói que anda sobre as águas, multiplica pães e peixes, ressuscita mortos e cura os leprosos.
Mas chega aos cinemas nacionais nesta quinta (17) "Ressurreição", com Joseph Fiennes e Cliff Curtis. O filme narra uma passagem da Bíblia pouco explorada no cinema: as três aparições de Cristo após sua crucificação.
Fiennes interpreta Clavius, o comandante do esquadrão de extermínio do Império Romano responsável pela morte do Nazareno. Sua vida e suas convicções, no entanto, mudam completamente quando ele começa a investigar o desaparecimento do corpo de Jesus e descobre que o messias está vivo. A figura de Jesus Cristo (Curtis), no entanto, é sempre mostrada à distância. O personagem quase não tem diálogos. 
"Acho que isto [filmar Jesus de longe] tem a ver com o sentido último da fé. Afinal, o quanto precisamos estar perto e testemunhar para termos fé? Algumas pessoas irão querer ver cada detalhe para acreditar. Outras só precisam de uma imagem de relance…", diz Fiennes.
Outro detalhe importante: Cristo, neste filme, é um coadjuvante, já que a história se centra na figura de Clavius, o romano incrédulo, e em sua transformação em homem de fé.
"A discussão sobre fé, sobre perdão, sobre ter uma segunda chance é algo que fala com nós todos. E Clavius fazia parte do esquadrão da morte responsável por matar Jesus Cristo. Não apenas seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele se encontra com o cara de novo, mas ele conclui que o perdão é não apenas uma parte importante da humanidade, mas também um processo de evolução. A maioria das histórias bíblicas nos reconecta com o que somos", completa o ator.
Cliff Curtis, o Jesus, diz que este filme é sobre Clavius, o romano. Apesar disso, a presença de Jesus no filme é intensa. E grande parte disso se dá devido ao trabalho do próprio Curtis. Além se não ser o típico caucasiano que costuma dar vida ao Messias no cinema, o ator contou à reportagem do UOL que durante seu processo criativo tentou viver como Cristo.
"Meditei muito e fiz um voto de silêncio. Fiquei vivendo sozinho por um mês, não falei com o diretor, nem com os outros atores. Foi lindo. Eu falo demais normalmente", disse.
A reportagem então perguntou: após sua vivência como Jesus Cristo, o que o nazareno diria aos pastores que usam seu nome para conseguir dinheiro de fieis, como acontece tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos?
"Eu não sei o que ele diria, mas acho que está tudo nas escrituras, na parte em que ele entra no templo e vira as mesas [dos fariseus]. Esse filme mostra a trajetória desse soldado romano, que está sempre querendo mais. Mais dinheiro, mais poder. Mas o que ele não tem? Paz. E Jesus aparece para lhe dar paz. Então, essa é a mensagem desse filme. Ser menos egoísta com o objetivo de ajudarmos a nós mesmos."
O que os atores diriam, então, se encontrassem Jesus?
O que eu gosto neste filme é que Clavius confronta este homem [Jesus] de um forma muito humilde. Ele não sabe o que perguntar… Acho que comigo seria mais ou menos o mesmo. Eu adoraria encontrá-lo, mas no momento do encontro eu ficaria tão estupefato que não saberia o que dizer.
Joseph Fiennes
Eu não tenho nada a perguntar, porque tudo que devia ser dito está na escritura. E essas questões até hoje estão sendo discutidas. Não é uma questão se se perguntar, mas de se ouvir.
Cliff Curtis

quarta-feira, 2 de março de 2016

HBO lança no Brasil neste ano serviço de vídeo concorrente da Netflix

O diretor-executivo da HBO, Richard Plepler, anunciou hoje (2) que o HBO Now, serviço de vídeo por streaming similar à Netflix, será lançado no Brasil neste ano. O serviço permitirá ao telespectador assinar apenas a HBO e receber o conteúdo da programadora via internet, sem passar por operadoras de TV paga. Pepler não informou quando o HBO Now chegará ao país nem quanto custará. Nos Estados Unidos, a assinatura é de US$ 15 (R$ 58). Lançado em abril do ano passado, o HBO Now tem mais de 800 mil assinantes.
A notícia foi dada na conferência Morgan Stanley Technology, Media & Telecom, realizada em San Francisco (Califórnia). Além do Brasil, a Argentina também receberá a novidade. Colômbia e México já têm. 
O objetivo da HBO é atingir a curto prazo de 12 a 15 milhões de assinantes. "Nós começamos muito, muito bem", comentou Plepler na conferência. "E temos um longo caminho a percorrer. Estamos apenas começando".
De acordo com o executivo, risco de os telespectadores cancelarem a TV paga para se tornarem assinantes apenas do HBO Now é quase zero. Segundo ele, somente 1% dos norte-americanos que compraram o HBO Now cancelaram a TV por assinatura. A maioria dos novos clientes não tinha HBO na TV paga.
O HBO Now é uma contraofensiva à Netflix, que entre os norte-americanos tem mais assinantes do que a HBO. As duas empresas batem de frente desde que a Netflix entrou no ramo de produção de séries, em 2013, ganhando evidência com House of Cards. Na época, Ted Sarandos, chefe de conteúdo da Netflix, disse que a meta da empresa era "virar a HBO antes do que a HBO vire a gente".


Original: http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/mercado/hbo-lanca-no-brasil-neste-ano-servico-de-video-concorrente-da-netflix-10612#ixzz41nCHxUn2 
Follow us: @danielkastro on Twitter | noticiasdatvoficial on Facebook