segunda-feira, 30 de setembro de 2013

AMÉLIA



Não havia musica que Amélia mais odiava que: “Ai que saudade da Amélia”, não podia acreditar que existisse uma mulher como tal. E, o que era pior, não suportava as brincadeiras a que era obrigada a ouvir por causa do seu nome. Até por que ela era o oposto da Amélia da música. Ela era independente, lutava pelo o que acredita, por isso não escondia sua insatisfação quando alguém chegava próximo a si e começava a cantar: “Aquilo que era mulher...”.
Amélia acreditava na igualdade entre o homem e a mulher. Ou melhor, acreditava que o homem devia fazer de tudo para agradar a mulher. Não conseguia entender, nem aceitar uma música como aquela, musica que, para ela, em momento algum enaltecia a mulher por suas lutas, e sim, por sua acomodação, aceitação, subserviência ao homem. E isso era inadmissível. “Essa história de passar fome e achar bonito não ter o que comer. De mulher não ter vaidade. Não existe” – dizia.
Por isso vivia a criticar as mulheres que abdicavam da sua vida pelo marido, pelo casamento. “A mulher não é simplesmente uma máquina de fazer filhos e limpar a casa.” – afirmava.
Bonita, bem sucedida, Amélia namorara poucas vezes, com trinta e sete anos já estava ficando para titia, bem, ficando não já era titia. Todas as suas amigas de infância já haviam se casado.
Mas, apesar de mostrar-se casca dura, Amélia, era sim, uma mulher romântica. E como todas as mulheres românticas, sonhava com a chegada de seu príncipe encantado, que, montado em seu cavalo branco, a arrebataria e a levasse para seu castelo onde viveriam felizes para sempre. Um homem que viveria para lhe fazer feliz.  Que não gostasse de futebol, sem amigos e sem ex-namoradas. Que a trataria como uma princesa, ou melhor, como uma rainha.
“Este homem que você deseja, infelizmente, não existe” – diziam suas amigas. “Ou é o bar, ou o futebol, os homens nunca vêem sozinhos. Sem contar com aqueles que vêm com os dois”.
“Por isso que estou sozinha” – respondia – “Eu que não vou ficar em casa passando roupa enquanto o meu marido sai para jogar futebol ou beber cerveja com amigos. Não sou empregada de ninguém. No meu lar, serei a rainha. Vocês que são umas bobas, idiotas”.
Mas todas sabiam que tudo o que ela dizia era da boca para fora, em seu intimo Amélia se sentia triste e sozinha.
Um dia Amélia apareceu com uma grande noticia: Estava apaixonada, pois, havia encontrado o homem da sua vida, o seu príncipe encantado.
A princípio ninguém acreditou nela. Pensaram até em mandar interna-lá. Ela havia ficado louca. Afinal, achar alguém para chamar de príncipe, ainda mais para ela chamá-lo, com todas as suas exigências e manias era quase que um milagre. Ou loucura. Não que não acreditassem em milagres, mas, preferiram acreditar em loucura. Amélia estava louca.
Aos poucos o que parecia um delírio foi se tornando realidade. Amélia definitivamente encontrara o amor. E para provar isso, marcou um jantar com toda a família e amigos.
Todas estavam ansiosas para ver e conhecer seu príncipe encantado. Algumas diziam que ele deveria estar à beira da morte, outras que ele, deveria ser terrivelmente feio. Teve até quem achara que ele era gay e ela teria um casamento de aparências.
No dia do jantar todas estavam lá e preparadas para rirem de Amélia e ver seu príncipe da forma que ele realmente seria: Um sapo.
Más línguas. Más amigas. Invejosas. Incomodadas com a felicidade alheia. Não queriam acreditar que Amélia havia tirado a sorte grande e que, diferentemente delas havia encontrado um príncipe de verdade.
 Ele não chegou montado em um cavalo branco, mas, a sua beleza causou uma grande surpresa. A inveja começou, quando viram a sua postura e a sua educação. O “sapo” era um príncipe. Perfeito! O homem que Amélia sempre sonhara. O homem que elas acreditaram não existir. Ou melhor, existir somente na imaginação de Amélia.
Amélia tirara a sorte grande. Enfim, seria a rainha do seu lar, como sempre sonhara. Naquele dia, nenhuma de suas amigas conseguiu dormir, tamanha inveja que sentiam.
Dias depois; o casamento. Amélia, enfim, se tornara a rainha que tanto sonhara.
“Que inveja”. – pensavam as amigas – “Que inveja”.
Aquele fora o dia mais feliz de Amélia até então. E o dia mais difícil para suas amigas. O dia em que tiveram que aceitar que Amélia sempre tivera razão. Sempre estivera certa e elas... E elas... Corroíam-se por dentro...
Dias depois, querendo presenciar a vida de rainha que Amélia estaria vivendo, suas amigas se reuniram e foram visitá-la. Ansiosas para verem a Rainha que ela se tornara. Foram sem avisar, afinal era sábado à tarde, e quem sai aos sábados à tarde? Com certeza Amélia estaria em seu castelo com seu rei.
Então, aproveitando-se que seus “príncipes” saíram para jogar futebol foram elas, visitar a “rainha Amélia”.
Ao chegar à casa de Amélia, a surpresa: não havia castelo, não havia rainha. O rei havia saído fora jogar futebol com os amigos enquanto a “rainha” passava uma enorme pilha de roupas. E, o que era pior, Amélia em nada se parecia com a Amélia que estavam acostumadas ver. Ela estava com as unhas por fazer, os cabelos, que cuidava com grande esmero, chegando a gastar fortunas para mantê-lo sempre maravilhoso, aparentemente quebradiço, sem vida. Amélia tentou disfarçar, mas era tarde demais. O castelo, de areia, havia desmoronado.
Nesse momento suas amigas foram acometidas por um grande sentimento de: Felicidade. A inveja se foi. Aquele sentimento mesquinho que sentiam se dissipou. Não havia mais rainhas ou plebéias. Não havia mais conto de fadas, agora era a vida real. E se sentiram feliz por isso, mas, com uma pontinha de tristeza, afinal eram amigas de Amélia e a amavam.
A tarde foi maravilhosa, feliz. Tão feliz que até combinaram de se reunirem na próxima semana.
Ao deixarem à casa de Amélia, suas amigas, não puderam se conter, e, felizes, foram embora cantando: “Amélia não tinha a menor vaidade. Amélia que era mulher de verdade...”.

A amiga merecia essa homenagem.

Marc Souza

domingo, 29 de setembro de 2013

UM CONTO SOBRE O AMOR



Eram casados havia muito tempo. E se amavam muito. Eram cúmplices na vida a dois. Amigos inseparáveis. Esposos. Casal. Um casal feliz.
            Apesar do tempo de casados, não tinham filhos. Na verdade, a correria do dia a dia. O trabalho, os muitos compromissos profissionais e sociais, não deixou a eles, sequer, tempo, para pensar em no assunto.
            Por isso, foram vivendo. Dia após dia. Mês após mês. Ano após ano. Vivendo suas histórias de amor.
            Um dia ela chegou em casa diferente. Queria conversar. Conversar sobre filhos. “São os hormônios” – pensou ele. E nem deu atenção ao que ela dizia. No entanto os dias foram passando e o assunto era sempre o mesmo. Seja na hora do almoço, do jantar o na hora de deitar. Filhos. Filhos. Filhos.
            Ele tentou ignorar o máximo que pode, mas, sem paciência com a leniência do marido, ela foi direto ao assunto. Queria ser mãe. Queria ter um filho. Dois talvez. Queria algo com que se preocupar. Queria ter responsabilidades. Queria ter alguém que ela pudesse cuidar, alimentar. Alguém que seria seu bem mais precioso.
            Após ouvi-la ele nada disse, somente abraçou-a e beijou-a ternamente.
            No outro dia, a surpresa; Ao chegar do trabalho ela encontrou no meio da sala com um laço de presente no pescoço, um lindo filhote de cão, que ao vê-la correu ao seu encontro esperando ganhar todo carinho de mãe.
            Ela amou o presente. Afinal a partir daquele dia conseguira alguém para cuidar, para se preocupar, para amar. A partir daquele dia, ela seria mãe. Mãe de um lindo e adorável cãozinho.
Uma mãe, mas, mãe solteira. Solteira.


Marc Souza

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sábado, 28 de setembro de 2013

CONTO DE UM AMOR SEM LIMITES


            Faltavam poucas horas para tudo, definitivamente, acabar. Poucas horas, então, tudo aquilo se transformaria em lembranças. Boas. Ruins. Mas, somente, lembranças.
De repente, tudo desapareceria. Para sempre. Todo sempre. As ruas. As casas. As praças. Tudo seria engolido pelas águas. Logo, a cidade transformar-se-ia em história. Submersa. Solitária no fundo de uma imensidão sem fim de água.
O progresso é cruel. Não há sentimentos, portanto, não há compaixão. O país precisa de energia elétrica. Precisa crescer. A usina hidrelétrica estava pronta. Em poucas horas as comportas se fechariam. E tudo o que ali estava, desapareceria por completo. Desapareceria para sempre. Tudo se transformaria em um mar de água doce. Um grande mar de água doce que traria conforto e progresso, para milhares, milhões de pessoas.
Por isso, a cidade estava fazia. Totalmente deserta. Só restavam lembranças. Histórias passadas. Vividas. Fantasmas de um povo, que viveu por centenas de anos, e, que foi obrigado a abandonar as suas casas. Seus lares. Suas vidas. Suas histórias.
No silêncio da cidade morta. Um barulho. Um barulho?
Dona Menina esta sentada em sua cadeira de balanço, na varanda de sua casa. O barulho é do balanço, que, incansável, vai de um lado para o outro. De um lado para o outro. De um lado para outro.
O tempo passa. Esgota-se. E dona menina a balançar. Alheia a tudo, dona Menina vai de um lado para outro, de um lado para outro.
Mas, há um problema, dona menina não esta alheia a tudo. Pelo contrário, dona menina esta muito ciente de tudo. Sabe que o tempo é curto. Sabe que em horas, tudo não passará de história. Lembranças do que um dia foi. Mas, mesmo assim, esta lá, sentada em sua cadeira de balanço indo e voltando, indo e voltando, a balançar. A esperar. Ela não espera a morte. Apesar da morte ser um ser iminente, ela, não a espera. Ela espera algo mais importante. Algo que esperou por sua vida inteira. E não arredará o pé, antes, que este chegue.
Vizinhos. Amigos. Os poucos familiares que lhe restaram. Até o prefeito veio até dona Menina a fim de persuadi-la a sair dali. Mas, em vão. Então, sendo mulher feita, consciente e sabedora dos infortúnios que aguardam-na, foi abandonada à própria sorte, ou, a sua própria vontade. Afinal só ela pode se salvar.
Aos 75 anos, dona Menina passara a sua vida inteira, ali, sentada na varanda a esperar. A olhar para o horizonte perdido. Em sua cadeira de balanço de um lado para outro, de um lado para outro.
Olhando o horizonte, relembra os bons e maus momentos que vivera. Lembra-se do amor de sua vida. Aquele a quem ela se entregou, de corpo, alma e coração. Aquele a quem amou todos os dias da sua vida. Aquele, que, por covardia, perdeu.
Olhando para o horizonte sem fim, espera. Espera a chegada daquele que foi o fruto do seu amor. Resultado de um amor que nem o tempo conseguiu apagar.
Dona Menina era jovem e bela, a mais bela da cidade. Naquela época era a única mulher na cidade com formação superior, fruto de vários anos na capital do estado. Bom partido, o melhor da cidade, vivia sendo cortejada pelos homens. Homens ricos, influentes. Homens considerados de bem.
Mas, dona Menina, não podia mandar no coração, aliás, ninguém consegue fazê-lo, por isso, apesar de inúmeros pretendentes, Menina apaixonou-se por um homem de fora da cidade. Um forasteiro como diziam, os moradores.
Foi amor à primeira vista.
De repente, estava apaixonada.
Estavam apaixonados. Perdidamente apaixonados.
A guerra começou. Todos eram contra o namoro de Menina, que brigou, lutou, fez chover, mas, não conseguiu demovê-los, não conseguiu a aprovação da família quanto ao seu namoro e as reais intenções de seu namorado.
“É um vagabundo!” – dizia o pai – “Uma pessoa sem eira nem beira.”
“Ele só quer brincar com você, Menina.” – completava a mãe – “Será que só você não vê?” “Será que você não percebe isso?”.
Mas, Menina não queria nem saber o que os pais diziam, por isso começou a encontrá-lo às escondidas, na calada da noite. Com a desculpa de ir à reza na casa de uma ou de outra amiga, saía e se encontrava com seu grande amor. Perdidamente apaixonada, entregou-se a ele, no dia, a que considerava o dia mais feliz da sua vida. O dia ao qual nunca se esqueceu. Mesmo com o passar dos anos. Os muitos anos, sem que nunca, por um dia sequer, se esquecesse daquele dia.
Um dia, a noticia, ele iria embora. Teria que ir embora. Por causa do seu envolvimento com Menina, ele fora despedido do emprego, e, ninguém, ninguém na cidade tinha coragem de lhe contratar, ou melhor, ousava contratá-lo, pois, todos tinham medo do pai dela.
Naquele dia ele estava triste, arrasado. Definitivamente acabado. Sem dinheiro e sem posses teria que ir embora. Deixar a cidade em busca da sua sobrevivência.
Pediu, para que Menina fosse embora com ele. Disse que a amava e queria casar-se. Menina pensou, pensou, mas não foi. Não teve coragem de abandonar sua vida, sua família. Amava aquele homem, era verdade. Amava-o mais do que qualquer pessoa pudesse imaginar. Mais do que a própria vida. Menina não conseguiu desafiar o pai. Não tinha forças para isso. Na verdade, não fora criada para isso.
Chorando, Menina viu-o partir. Para sempre. Viu seu amor, sua felicidade escapar pelos dedos das mãos como areia fina. Viu-o partir, para nunca mais voltar.
Aquilo foi demais para Menina, que passou duas, três semanas sem ao menos sair do quarto. Não conversava com ninguém. Não ouvia ninguém. E comia pouco, muito pouco. Comia o suficiente para manter-se viva.
De repente percebeu que algo estranho estava acontecendo com ela. Sentia fraqueza. Enjôos. De repente percebeu estar grávida. A princípio ficou feliz. Depois, desesperada. Grávida. Sem um marido. Aquilo seria seu fim. Uma vergonha, para si, e, principalmente para a sua família.
Devia ter ido embora, mas, não fora, agora, teria que enfrentar aquela situação de frente.
A noticia da gravidez caiu como uma bomba na família. Menina foi ofendida, humilhada pelos pais. Se perder a virgindade antes do casamento já era motivo de vergonha na família naquela época, imagina uma gravidez.
Dias depois, Menina e sua mãe deixaram a cidade com destino à capital. Para que Menina estudasse, disseram. Meses depois, ela deu a luz a um menino. “A cara do pai” – pensou – ao receber o filho pela primeira vez em seus braços. Nesse momento, chorou de alegria. Chorou, também, por lembrar-se dos momentos maravilhosos que vivera com o pai dele.
Após o nascimento da criança, Menina e a mãe viveram por um tempo na capital. Tinham uma vida boa, mas, silenciosa, Menina vivia quase o tempo todo em silêncio. Quase não conversava com a mãe ou com qualquer outra pessoa que viessem visitá-las. Vivia para o filho: Banhava-o, amamentava-o, dedicava-se completamente a ele. Que era a sua alegria. A única alegria que tivera, naquela infeliz vida.
Em uma manhã, sua mãe, pediu para ela arrumasse as malas, pois, voltariam para casa. Menina arrumou tudo e pôs-se a esperar, brincando com o filho que insistia a sorrir-lhe o tempo todo.
Horas antes de partir, uma tia chegou à casa. Friamente sua mãe pediu-lhe para a filha dar o menino à tia. A partir daquele momento ela seria a mãe do filho de Menina.
Aquilo deixou Menina desesperada. Ela chorou. Pediu. Implorou. Ameaçou fugir. Mas, não demoveu a mãe da decisão.
Sem qualquer ressentimento a tia pegou o filho dos braços de Menina e se foi.  A criança chorava desesperadamente, mas, nada fez com que desistissem de toda a maldade para com Menina e seu filho.
Ao ver o filho partir, Menina ainda correu atrás do carro onde estavam a tia e o filho. A tia parou o carro e por um minuto Menina olhou a criança chorando, que, ao sentir um leve toque das mãos de sua mãe no rosto, parou de chorar. Menina sabia que aquele seria a ultima vez que veria seu filho, então fez um pedido a tia; Pediu para que ela falasse ao seu filho sobre ela. Que dissesse a ele que ela o amava, e que ele nunca fora abandonado. Pediu a tia para que um dia ela o deixasse conhecê-la. Vendo o desespero da sobrinha ela aceitou. Fez-lhe uma promessa. E se foi.
Desde então Dona Menina vive ali, sentada a esperar. A esperar pelo filho que nunca veio. Não até aquele momento, mas ela sabia que um dia ele viria. Viria vê-la. Então abraçá-lo-ia. Beijá-lo-ia. Far-lhe-ia inúmeras declarações de amor.
Esperando pelo filho, Menina foi vivendo ali, dia após dia, todos os dias de sua vida.
Acompanhou a morte dos pais. Dos irmãos mais velhos. E esperou.
Sempre olhando o horizonte e a balançar. Vai e vem. Vem e vai. Sempre olhando o horizonte e a esperar. Esperar, pelo filho amado. Único fruto de um grande e verdadeiro amor. Único fruto, do seu amor.
E mesmo com a iminência da morte, não conseguia sair dali.
“E se ele viesse logo hoje – pensava – E não me encontrasse?” “Poderia achar que eu não o amo”. “Poderia pensar que eu realmente o abandonei”.
Nada passava na sua cabeça, além da volta do filho para os seus braços. Aquela criatura frágil, pequena, tão indefesa. Que agora, imaginava, seria um homenzarrão. Lindo, forte, cheio de saúde. Com uma família linda. Filhos. Netos. Logo ele estaria ali, no seu portão. Então, este, seria o dia mais feliz da sua vida. Mais feliz. Por isso, não podia sair dali, prometera que estaria a sua espera. Prometera. E promessa é dívida.
Não quebraria uma promessa. Principalmente a promessa feita ao seu filho tão amado.
De repente, no meio daquele silêncio todo, um barulho ensurdecedor. Depois, outro. E mais outro. O fim se aproximara. O fim da cidade. Da história. Dos sonhos. O fim de Dona Menina estava chegando.
Então, uma criança chega ao seu portão. Ela olha e sorri. Um sorriso lindo. Cheio de vida. O menino abre o portão e corre para os braços de Menina, que o abraça e o beija amavelmente.
- Eu sabia que você viria...  – diz ela aos prantos – Eu sabia.
Outro barulho, então, o fim! A água toma conta de tudo, sem dó, nem piedade. Em segundos, tudo se esvai para sempre, submerso na imensidão azul de água doce.
   
 Marc Souza

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

MENTIRINHA



Havia tido uma ótima noite.
        Saíra com uma garota maravilhosa, tendo retornado para sua casa somente pela manhã.
            Estava feliz, muito feliz.
            A felicidade era tamanha que se esquecera das horas.
            Estava amanhecendo.
            Chegando em casa, abriu a porta devagar, evitando ao máximo fazer barulho, afinal, se sua mãe o visse chegando àquela hora ele estava frito.     Por isso entrou e trancou a porta lentamente indo diretamente para seu quarto.
            Sentou na cama, fechou os olhos e pôs-se a lembrar dos bons momentos que vivera naquela noite.
            Então, sua mãe, passou pela porta do quarto e encontrando-a aberta entrou.
            Um gelo subiu pela espinha.
            - Ué, você chegou agora?
            Danou-se pensou ele, e agora? O que fazer? Se contasse a verdade, com certeza estaria perdido.
            - Não! – respondeu, tentando achar uma solução rápida – É que... – coçou a cabeça – É que... – tinha que ganhar tempo, não sabia o que dizer – Sabe mãe... - de repente, uma idéia – É que eu resolvi ir à missa hoje cedo. Por isso é que já estou de pé.
            A mãe mostrou-se satisfeita.
            - Que bom filho! Então é melhor se apressar, se não você vai perder a hora. – disse isso e saiu.
            - Pode ficar tranqüila, eu já estou indo – disse desanimado.
            Cansado, sonolento ele saiu e foi para a missa.
            Quando retornou o almoço já estava posto.
            Exausto, desculpou-se e, dizendo estar indisposto, não almoçou e foi dormir.
            Dormiu a tarde toda, acordando somente no inicio da noite, quando, comeu alguma coisa e voltou a dormir.

            A mãe nada disse, somente sorriu, pois, zelosa que era, sabia que o filho não dormira em casa na noite anterior, mas, estava satisfeita com a lição que ele recebera.

Marc Souza


VOTO CONSCIENTE



           
- Estou decidido. Não vou brincar mais com o meu voto, a partir de agora, vou procurar conhecer melhor os candidatos. Conhecer suas histórias, os seus projetos. E vou votar em um candidato que seja idôneo. Um candidato que seja honesto. Trabalhador. Vou voltar em uma pessoa que apresente projetos sociais consistentes, reais. Vou votar em quem vá lutar para a melhoria do ensino público e principalmente para a melhoria da saúde pública. Não quero mais saber de promessas, a partir de agora, vou votar em alguém que tenha um projeto de desenvolvimento sustentável para a nossa cidade, para o nosso estado, para o nosso país. Alguém que tenha uma ficha limpa, que não seja corrupto e que vá combater de forma enérgica a corrupção dentre das esferas do poder. Sabe por que, por que é preciso dar um basta no loteamento de cargos públicos. Dar um basta à corrupção. Dar um basta ao corporativismo político. Por isso, a partir de agora...

- A partir de agora – interrompe o amigo – Você só vai votar em branco. E não se fala mais nisso...

Marc Souza

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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

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AMOR ADOLESCENTE


Aqueles dias foram maravilhosos para João Alberto.
Era sua primeira namorada, iam à toda parte, ficavam juntos o tempo todo e apesar de suas poucas idades, João tinha 16 e ela 15, se amavam, se amavam muito.
João Alberto sonhava acordado, e nos seus sonhos, lá estava ela, sempre feliz ao teu lado. Para João Alberto uma coisa parecia certa, ficariam juntos para sempre, para todo o sempre.
Na escola, eram conhecidos por casal 20, e adoravam, é verdade que casal 20 era uma denominação demasiadamente antiga, no entanto, não ligavam, amavam, aliás, seu namoro, era como nos velhos tempos.
João havia pedido a mãe dela para que pudessem namorar, o namoro era em casa, aos olhos do pai, que era muito rigoroso.
Se fossem tomar um sorvete, a irmã mais nova ia junto, mas ele não ligava, o importante para João era estarem juntos.
Ele e sua amada. A sua amada imortal.
Um dia, chamou-a para um piquenique, à beira do rio que cortava a cidade. E lá se foram. Refrigerantes, lanches, salgadinhos, levaram tudo o que precisavam para passar um belo dia juntos, e, o que era melhor, sozinhos, pela primeira vez, estavam a sós.
Que dia, pensava João. Vai ser um dia maravilhoso. Inesquecível.
Acharam uma pequena praia, à beira do rio, e lá, sozinhos, começaram a se beijar, se abraçar, e, de repente, não mais que de repente, transaram.
A primeira vez a gente nunca esquece, principalmente, quando é com quem se ama, eles estavam felizes, muito felizes, e naquele ambiente romântico, transaram novamente.
No final da tarde, voltaram para casa, felizes, suas vidas mudariam, tinham selado seu amor da forma mais bela, e agora, seriam para sempre, um do outro.
Nada mais os separariam.
Tinham feito um pacto.
Um belo pacto.
Tinham se entregado de corpo e alma, de coração, eram agora um só ser, um só coração.
Com certeza, aquele foi o dia mais feliz da vida deles.
Ao acordar no dia seguinte, João Alberto olhou no relógio. Uma hora da tarde. “Meu Deus” pensou “dormi demais”.
Levantou-se, e rapidamente, trocou de roupas e correu em direção à rua.
Sua mãe, que estava na sala de estar, vendo João passar correndo, tentou inutilmente chamar-lhe a atenção.
João correu, correu. Queria ver o seu amor. Queria se certificar de que tudo que passara no dia anterior não era apenas um sonho, então, correu, correu cada vez mais rápido.
Ao chegar à casa dela, tudo estava fechado.
Chamou, chamou, mas não obteve respostas.
“É um pesadelo” pensou. “Estou dormindo ainda e tudo não passa de um pesadelo”.
Chamou novamente, mas ninguém veio atendê-lo.
De repente, uma voz. “O que você quer menino?”
Ao olhar, João percebeu que era a vizinha da frente.
- Não tem ninguém em casa? - perguntou.
- Não, eles se mudaram essa manhã - responderam.
- Para onde?
- Para uma cidadezinha no interior do Piauí.
- Por quê?
- Eu que vou saber.
Naquele momento, João Alberto, sentiu sua primeira dor de amor.
Era como se uma faca tivesse cortado seu coração. Desiludido chorou. E como chorou.
Ao retornar para casa triste, cabisbaixo, sua mãe lhe pergunta o que acontecera, mas ele sequer lhe da atenção e vai para o quarto.
Minutos depois, sua mãe entrou, trazendo consigo uma carta.
- Sua namoradinha veio aqui de manhã e deixou isso aqui para você.
João mostrou-se um pouco animado.
- Ela não quis que eu o chamasse – continuou - disse que você entenderia.
Dizendo isso entregou a carta e saiu.
Era uma carta de despedida.
A carta dizia que ela não teve coragem de contar-lhe sobre a mudança e lhe agradecia pelo belo dia que tiveram, dia que ela levaria até o fim de sua vida, terminando a carta, escreveu “Eu sei que vou te amar”.
Na carta, não havia um endereço, telefone, nada.
João chorou, chorou muito. Seu amor partira. Partira para sempre, e, mesmo que quisesse nunca mais a veria. Nunca mais. Ficara com ele somente a lembrança daquele maravilhoso dia em que se entregaram um ao outro, e uma carta. Nada mais.
Os dias foram passando. Após dias e dias em estado depressivo, aos poucos, ele foi voltando ao normal.
Voltou a jogar futebol, coisa que tinha parado na época do namoro. Voltou a sair à noite com os amigos.
Logo estava namorando. Uma, duas, várias vezes.
Vez ou outra se lembrava de sua primeira namorada, com carinho, talvez com amor.
Mas a vida não para, o tempo não para. Os dias se passaram. Os anos se passaram.
Apesar dos vários namoros ele não conseguia se esquecer dela, dos momentos que viveram juntos. Ao lembrar-se desses momentos, se emocionava, não sabia explicar o porquê, mas a emoção que sentia ao se lembrar dela era incompreensível, incontrolável.
João Alberto se casou e teve dois filhos um menino e uma menina.
O nome da menina ele escolheu em homenagem ao grande amor da sua vida. É claro que sua esposa não sabia, apesar de achar estranho o marido fazer questão de dar o nome à filha, nunca fez questão de perguntar-lhe o por que.
Depois de muito tempo, João passou a pensar muito na sua primeira namorada. Por mais que tentasse não conseguia tirá-la do pensamento. Aquela situação o angustiava. O pior é que ele não sabia o que fazer para por fim naqueles pensamentos, naquelas lembranças que viam à tona a todo o momento. A frase final da carta de despedida escrita por ela ficava martelando na sua cabeça.
“Eu sei que vou te amar”.
Vinham as lembranças e, de novo a frase.
“Eu sei que vou te amar”.
Até dormindo a frase aparecia em seus sonhos, na sua mente.
“Eu sei que vou te amar”.
Um dia, havia chegado do trabalho e estava lendo o jornal, enquanto sua esposa preparava o jantar, então, alguém tocou a campainha do seu apartamento.
Foi atender. Na porta havia um de aproximadamente vinte anos.
- Desculpe senhor por incomodá-lo há essa hora, mas é que eu tenho algo lhe dizer – antes que ele disesse algo, o rapaz completou - É urgente.
- Então diga – responde João.
- O nome do senhor é João Alberto?
- Sim! Por quê?
- O senhor já morou no bairro do Guarantã, próximo ao rio Pirarucu.
- Sim! Por favor meu rapaz, seja mais direto. Estou ficando confuso.
Nesse momento os olhos do rapaz enchem-se de lágrimas, e ele não consegue conter o choro.
- Desculpe... É que... É que... Desculpe novamente, mas é que o senhor é meu pai.
- Pai? Pai? Como assim? Olha garoto, eu não gosto de brincadeiras, ainda mais, brincadeiras deste tipo.
- Eu sinto muito, mas, não é brincadeira não. Eu sou verdadeiramente, seu filho.
- Como assim? Meu filho?
- O nome da minha mãe é Carla. Carla Regina.
Ao ouvir estas palavras João, também se emociona. Tudo se encaixara, pensou. E por mais que se conteve não pôde segurar o choro. Abraçou o filho que acabara de conhecer e com ele, chorou.
Sua esposa chegou a sala e, em silêncio, acompanhou a belíssima cena. Não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Nesse emocionante momento, sentiu-se tocada. Sentiu uma lágrima escorrer dos seus olhos.
 - Desculpe, eu vir até aqui, assim... Sem antes ligar, ou sei lá o quê... É que tudo isso é muito difícil para mim sabe... Eu não quero causar problemas.
- Não se preocupe. Você não esta causando problemas algum. Venha, entre!
- Pai! Ela te amava muito sabia – ele olha envergonhado para esposa de João que observava tudo muito emocionada – Muito mesmo.
Eles novamente trocam abraços.
- Eu não sei o que dizer, filho. Não sei.
- Não diga nada, pai. Nada. Ela nunca deixou de te amar, sabia? Ela me pediu para te dizer isso. Pediu para eu dizer que ela nunca deixou de te amar. Nunca. Ela disse que te amou todos os dias da sua vida, até o final.
- Como assim? Até o final?
- Infelizmente ela nos deixou semana passada. Nos deixou para sempre. Para sempre pai – diz chorando copiosamente, desesperadamente.
- Quer dizer que ela morreu?
- Sim! Morreu! Foi tudo tão rápido.
- Não diga nada – interrompe – Não agora. Eu sinto muito. Muito mesmo.
- Antes de ir embora ela me pediu para vir aqui. Por isso que eu vim, assim. Sem avisar. Talvez se eu esperasse mais um pouco não teria coragem. Mas eu tinha que vim, por minha mãe. Antes que o senhor pense alguma coisa, eu quero que saiba que não vim reclamar...
- Deixa pra lá! Eu não estou pensando em nada. Por favor, a gente não precisa falar sobre isso.
- Pai antes de falecer ela me fez prometer que entregaria ao senhor esta carta. Ela sempre falou muito bem do senhor. Quero que saiba que ela me ensinou a amá-lo também, mesmo sem conhecê-lo.
A esposa de João foi até eles e abraçou ambos. Não sabia o que dizer, mas sentiu que seria boa esta atitude.
Sentindo a compreensão da esposa, João pegou a carta e ao abri-lá leu, “Por toda minha vida eu vou te amar”.


Marc Souza

terça-feira, 24 de setembro de 2013

COTIDIANO



A arma do policial estava apontada diretamente para o seu rosto.
Ele estava desesperado, pois, não sabia o que fazer. Em seu intimo, sentia que aqueles seriam seus últimos minutos de vida.
O pior era que não fizera nada demais. Ou melhor, em toda a sua vida, ele nunca cometera um crime sequer. Sempre fora um rapaz trabalhador. Honesto.
Infelizmente, ele estava no lugar errado e na hora errada.
O policial olhou fixamente em seus olhos. Frio, não demonstrou qualquer emoção.
“O tiro é questão de tempo”, pensou. Com medo, fechou os olhos.
Não queria morrer. Mas sentiu que a hora havia chegado.
Seria morto. Morto pela policia.
Tudo aconteceu porque queria ajudar. Mas, foi mal compreendido, mal interpretado.
- Senhor eu... – tentou defender-se, justificar-se, mas, foi bruscamente interrompido pelo policial.
- Cala a boca, bandido filho da puta...
- Mas, senhor eu queria...
Não conseguiu terminar a frase, pois foi interrompido por um tiro que o acertou no peito, fazendo-o cair no chão. A dor era insuportável. Levando a mão contra o ferimento ele sentiu o sangue quente escorrer por entre os dedos, deixando seu corpo fraco, sem forças. Começou a sentir dificuldades para respirar. Sua visão, aos poucos foi escurecendo. Sentia que sua vida estava, aos poucos, se esvaecendo. Sentia que aqueles eram seus últimos segundos de vida. A morte, agora, era iminente. Uma questão de tempo, pouco tempo.
Vendo-o no chão agonizante, o policial foi até ele. Continuava apontando-lhe a arma. Então ele, com as poucas forças que lhe restavam, esticou o braço bem devagar, entregando uma carteira ao policial.
- Aqui está... – tentava encontrar forças para falar – Aqui esta sua carteira senhor... Ela... Ela... Estava caída no chão.
Dizendo isso, sentiu que sua vida havia acabado. Então morreu ali mesmo, como um marginal. Coisa que nunca fora.
Visto isso, o policial percebeu a injustiça que cometera. Desesperado debruçou sobre o corpo sem vida do rapaz e chorou.
Chorou muito, pois, neste momento, percebeu que entrou em um mundo sem volta. Percebeu que perdera a capacidade de confiar nas pessoas. Que perdera a confiança na humildade e na honestidade do ser humano.
Neste momento, percebeu que a violência vivida diariamente, transformou-o, para sempre.
E, para pior.

Marc Souza 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

AS APARÊNCIAS



O ônibus está estupidamente lotado. Maria, a contragosto, entra, não gosta de andar de ônibus a essa hora do dia. No entanto é preciso, pois, sua filha a espera, e o assunto a tratarem é muito, muito importante, e não pode esperar.
O transporte público é um caos, a superlotação, as más condições dos veículos o horário irregular, além de outras mazelas, deixa todos os usuários irritadiços. Maria, como não poderia deixar de ser, esta tremendamente irritada, se já não bastasse a cada parada do ônibus, subir mais passageiros do que os que desceram, ela ainda, tem que aturar alguns homens se esfregando nela de forma maliciosa, pois, sem lugar para sentar ela tem que viajar de pé.
A cada parada Maria fecha os olhos para não ver a quantidade de pessoas que sobem no ônibus. Ela, aos poucos, vai entrando em desespero. Na ultima parada Maria observa que, dois rapazes negros, acabaram de entrar.
Ao perceber a entrada dos rapazes, Maria, sente um frio na espinha. De repente é tomada por uma grande sensação de insegurança e por um medo quase que incontrolável. Instintivamente protege sua bolsa, segurando-a fortemente junto a seu corpo.
O ônibus volta a andar, mas, Maria, fica incomodada com a presença dos novos passageiros e não tira os olhos deles, nem por um segundo. O medo aumenta, uma angustia incontrolável começa a tomar conta do seu coração. Baixinho ela começa a rezar. Em sua mente, várias situações começam a ganhar vida e, em todas, os novos passageiros são parte atuante.
“E se eles me pegarem de refém” - pensa.
“Meu Deus, e se eu for assassinada por um deles em um momento de nervosismo.”
“Não que eu seja racista, mas, olha a cara deles, parecem que estão esperando o momento certo para darem o bote e nos roubarem. Minha bolsa, tenho que proteger a minha bolsa”.
“Olha a cara deles, olha a cara de maldade que eles tem”.
“E agora, o que fazer?”
“Quantas pessoas saem de casa, pegam um ônibus e não conseguem chegar ao seu destino? Quantas?”
Maria não consegue tirar os olhos dos dois rapazes, tampouco, afastar os maus pensamentos.
Os pontos de ônibus vão passando, passando. O numero de passageiros aos poucos vão diminuindo e nada de os rapazes descerem.
Maria entra em desespero.
“Será que eu tenho razão?”
“Será que eles vão aprontar algo conosco?”
“Eles devem estar esperando aumentar o dinheiro no caixa do cobrador.”
Falta, ainda, duas paradas para Maria chegar ao seu destino, mas, não agüenta a pressão que sua mente esta fazendo contra si, angustiada, quando o ônibus para, ela empurra as pessoas que estão no corredor e, como uma louca, desce correndo, sob o olhar atônito dos passageiros.
Fora do ônibus aos poucos Maria vai recobrando a razão, aos poucos vai se acalmando.
“Estou salva agora”.
Sua respiração volta ao normal. A angustia desaparece.
“Desci um pouco longe, mas, não há nada que uma boa caminhada não resolva, dentro de alguns minutos chegarei à casa de Helena.”
“Graças a Deus desci antes que aqueles negrinhos fizessem o serviço”.
“Tolos, idiotas, acharam que iam me pegar.”
“Se ferraram”.
Maria caminha tranquilamente pela rua, sente-se muito segura.
De repente ela sente em suas costas um objeto que, pontiagudo, a machuca, antes de pensar no que está acontecendo uma voz lhe diz de maneira firme:
- Por favor, a senhora poderia me passar sua bolsa?
- O quê?
- A bolsa minha senhora, a senhora quer que eu grite para todo mundo ouvir que isto é um assalto?
“Filhos de uma mãe”.
“Só pode ser vingança, daqueles negrinhos”.
“Só porque eu descobri o plano deles, eles estão aqui para se vingar”.
“Queriam roubar o ônibus, mas, como não deu certo, eles me seguem e me roubam”.
“Safados”.
- Olhe aqui dona, vamos passar logo essa porra dessa bolsa, antes que eu perca a paciência e te fure, sua vaca.
- Toma – diz Maria entregando a bolsa, sem olhar para traz.
- Valeu dona! Um bom dia para a senhora, ta ligada.
De posse da bolsa, o assaltante vai embora, caminhando pela rua, lentamente, como se nada tivesse acontecido.
Maria, tremendo de medo, se vira, e observa o rapaz caminhando calmamente, carregando sua bolsa, o rapaz, branco de estatura média, bem apessoado, traja roupas, rigorosamente limpas, de grife. Um rapaz acima de qualquer suspeita.
Nervosa, Maria põe-se a andar no sentido contrário, pois, precisa chegar logo à casa da filha, no entanto, não consegue esconder sua tristeza, e principalmente, sua vergonha.
Enquanto isso, no ônibus.
- Que mulher esquisita né João?
- É, bem que o pai falo que as pessoas da cidade grande eram muito esquisitas, Zé.
- Deve ser a poluição, que deixam as pessoas assim.
- É deve ser.
O ônibus pára.
- Chegamo.
- Vamos descer então, antes que a gente se perca nessa selva de pedra.
- Sabe Zé, o pai disse, também, que aqui, as pessoas eram muito racistas, mas por enquanto, eu não me apercebi de nada não, e você?
- Também, não João. Também não.


Marc Souza