terça-feira, 3 de setembro de 2013

DESABAFO DE UM SER INVISIVEL



Eu estou aqui. Sei que você não me vê. Ou não quer me ver. Mas, por mais que você não queira me ver. Por mais que você me ignore. Eu não deixarei de existir.
Não deixarei de te observar. De analisar seus costumes. De analisar a sua vida.
Por mais que você não queira, eu estou aqui. Sempre estarei.
Posso mudar de lugar. De cidade, mas, virá outro em meu lugar. Outro que fará tudo o que eu faço. Da mesma maneira que faço. Pois, nós existimos.
Vivemos. Sofremos. Choramos. Sorrimos.
Somos como você. Apesar de você não achar. Apesar de querer acreditar que não somos iguais.
Querendo ou não. Somos iguais. Somos da mesma espécie.
Você me ignora. Me ofende. Me machuca. Me deseja o mal.
Diz que sou um problema.
Do alto do seu prédio. Atrás dos muros da sua casa. Ou, por trás dos vidros escuros do seu carro. Você me teme. Tem medo de mim. Do que eu possa a lhe a fazer.
Eu não sou um problema.
Sabe, eu nem queria estar aqui. Sofrer com a chuva. Com o sol. Sofrer com o frio.
Você sabe o que é passar frio?
Não, com certeza não.
Eu queria estar no conforto de uma casa. Protegido das intrepérides do tempo. Da polícia. Das pessoas mal intencionadas, que me matam. Que me ferem. Como seu não fosse nada. Como seu eu fosse um animal. Sabe, eu não consigo fazer mal algum a qualquer animal. Por mais, feio e peçonhento que seja.
Eu queria estar em um lugar que me protegesse, principalmente, do seu preconceito.
Preconceito que me ignora. Que me culpa de uma situação a qual eu não tive escolha.
Agora neste exato momento que você sobe os vidros escuros do seu carro. Fingindo não me ver, pense só um minuto:
Você poderia estar aqui, no meu lugar. Com fome. Com sede. Doente.
Ou, simplesmente, invisível.


Marc Souza

(imagem de internet)

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