terça-feira, 24 de setembro de 2013

COTIDIANO



A arma do policial estava apontada diretamente para o seu rosto.
Ele estava desesperado, pois, não sabia o que fazer. Em seu intimo, sentia que aqueles seriam seus últimos minutos de vida.
O pior era que não fizera nada demais. Ou melhor, em toda a sua vida, ele nunca cometera um crime sequer. Sempre fora um rapaz trabalhador. Honesto.
Infelizmente, ele estava no lugar errado e na hora errada.
O policial olhou fixamente em seus olhos. Frio, não demonstrou qualquer emoção.
“O tiro é questão de tempo”, pensou. Com medo, fechou os olhos.
Não queria morrer. Mas sentiu que a hora havia chegado.
Seria morto. Morto pela policia.
Tudo aconteceu porque queria ajudar. Mas, foi mal compreendido, mal interpretado.
- Senhor eu... – tentou defender-se, justificar-se, mas, foi bruscamente interrompido pelo policial.
- Cala a boca, bandido filho da puta...
- Mas, senhor eu queria...
Não conseguiu terminar a frase, pois foi interrompido por um tiro que o acertou no peito, fazendo-o cair no chão. A dor era insuportável. Levando a mão contra o ferimento ele sentiu o sangue quente escorrer por entre os dedos, deixando seu corpo fraco, sem forças. Começou a sentir dificuldades para respirar. Sua visão, aos poucos foi escurecendo. Sentia que sua vida estava, aos poucos, se esvaecendo. Sentia que aqueles eram seus últimos segundos de vida. A morte, agora, era iminente. Uma questão de tempo, pouco tempo.
Vendo-o no chão agonizante, o policial foi até ele. Continuava apontando-lhe a arma. Então ele, com as poucas forças que lhe restavam, esticou o braço bem devagar, entregando uma carteira ao policial.
- Aqui está... – tentava encontrar forças para falar – Aqui esta sua carteira senhor... Ela... Ela... Estava caída no chão.
Dizendo isso, sentiu que sua vida havia acabado. Então morreu ali mesmo, como um marginal. Coisa que nunca fora.
Visto isso, o policial percebeu a injustiça que cometera. Desesperado debruçou sobre o corpo sem vida do rapaz e chorou.
Chorou muito, pois, neste momento, percebeu que entrou em um mundo sem volta. Percebeu que perdera a capacidade de confiar nas pessoas. Que perdera a confiança na humildade e na honestidade do ser humano.
Neste momento, percebeu que a violência vivida diariamente, transformou-o, para sempre.
E, para pior.

Marc Souza 

Nenhum comentário:

Postar um comentário