sábado, 21 de setembro de 2013

CATORZE ANOS



            - Saia daqui... Agora!
            - Mas... Mas eu não fiz...
            Antes de terminar a frase um tapa acerta-lhe o rosto.
            - Nada. – Diz caindo no chão.
            - Sai daqui agora. Seu filho de uma... Puta.
            A mãe quando vê o filho ser agredido corre ao encontro do filho que esta caído.
            - Desgraçado... – diz, ao ser empurrada e cair no chão bem ao lado do filho.
            Caídos se abraçam e choram.
            - Não acredito que você vai defender este moleque. Sabe de uma coisa? Suma daqui! Vá embora! Vocês dois! Sumam daqui!
            - É o que eu mais quero. Sair daqui. Deixar você, seu... Seu porco nojento. Só que você sabe, não temos para onde ir.
            - E isso lá é problema meu. Eu só sei que eu não quero mais este moleque aqui. Se você quiser ir com ele eu não estou nem aí.
            - Espera aí! Esta casa também é minha. – diz se levantando – E sabe de uma coisa, você sai. Não ele. Ele é meu filho.
            - É só você me tirar daqui – responde de forma arrogante - Vamos, me tire daqui desta casa. Vamos ver se você é capaz de fazer isso. Vamos. Essa é a hora.
            Ele dá um tapa no rosto dela.
            - Eu vou chamar a polícia. – diz ela, olhando nos olhos dele, segurando o choro, mas, sem evitar que as lágrimas escorram pelo rosto.
            - To morrendo de medo. – segura a mulher pelo braço e diz bem próximo a ela com muita raiva – Se você pensar em chamar a policia, eu te mato. Mato você e esse inútil aí. Mato os dois. Agora tira esse moleque da minha frente. Da minha casa. Não espere eu expulsar vocês dois daqui. E ficar só com o meu filho.
            - Você não faria isso...
            - O que? Acha que eu não tenho coragem de te expulsar daqui? Mulher, não seja idiota. Burra. Não pague pra ver. Ponha esse moleque daqui para fora logo. Eu não tenho obrigação nenhuma de cuidar dele. Ele é seu filho, não meu.
            - Homem, para com isso. Você não vê que ele é só uma criança.
            - E eu com isso. Ele não é a minha criança, é sua. Então não me deixe perder a paciência com você também. Não me obrigue a manda-lá embora com ele - disse secamente, enquanto saía da sala. – Você tem quinze minutos.
            Ela se abaixa e abraça forte e dêsesperadamente o menino.
            Eles choram.
            - Filho... Filho... O que vamos fazer? Eu não sei...
            - Não se preocupe mamãe, eu vou embora.
            - Não!
            - Eu vou ficar bem.
            - Eu não posso deixar você ir.
            - E o quê a senhora vai fazer? Matar aquele troglodita? Com certeza não. Nem deve.
            - Então, vamos embora, eu você e o...
            - A senhora acha que ele vai deixar a senhora levar o Carlinhos? Pode ter certeza que não. A senhora não deve deixar o Carlinhos só, com ele. Ele é um cara ruim. O Carlinhos não merece ter um pai assim, a senhora precisa ficar com ele para que o Carlinhos não seja contaminado com toda maldade do pai.
            Eles se levantam.
            - Eu vou embora.
            - Você não pode ir. Não pode. – diz desesperada.
            - Eu não posso é ficar. Vai ser melhor. Melhor para todo mundo.
            - Mas para onde você vai? Nós não temos parentes aqui. Não temos ninguém.
            - Eu não sei, mas eu me viro.
            - Essa casa é sua, você não pode ir. Essa casa era do seu pai, então, é sua. É a única coisa que o seu pai nos deixou.
            - Eu sei mãe, mas, agora, ela não é mais. A senhora fica aqui e cuida do Carlinhos. Vou ficar por perto. Pode ficar tranqüila. Eu vou dar notícias. – ela segura seu braço – Deixa eu ir, antes que ele volte, e nos agrida mais. Já ta bom por hoje. A senhora não merece.
            Ele vai na direção ao quarto, quando o padrasto retorna.
            - Aonde você vai?.
            - Vou pegar as minhas coisas.
            O padrasto o segura pelo braço.
            - Que coisas? Você não tem mais nada aqui, agora é tudo do meu filho.
            A mãe revoltada, vai na direção deles.
            - Para com isso... – diz ela.
            Ele levanta o braço para agredi-lá.
            - Parem! Tudo bem, tô indo.
            A mãe chora copiosamente.
            - Mãe, vá para dentro, o Carlinhos ta precisando da senhora.
            A mãe vai até ele, e chorando o abraça fortemente.
            - Eu te amo, mamãe. Nunca se esqueça, ta. Eu te amo, muito.
            - Saia daqui moleque. - diz o padrasto.
            Ele sai.
            Caminha lentamente pela rua, sem saber aonde ir, enquanto, pela janela, sua mãe o observa, segurando em seus braços o filho mais novo.
            Ela pensa nos perigos, que agora, o filho terá que enfrentar, afinal, ele só tem catorze anos.


Marc Souza

Um comentário: