Ao entrar naquele ônibus ela sabia
que entrara em um caminho sem volta. Dentro de poucos minutos sua vida mudaria.
Mudaria para sempre. E, para pior. Envergonhada, angustiada com a situação que
estava vivendo entrou de cabeça baixa. Para ela, era como se todos soubessem da
atrocidade que estava prestes a realizar. Por isso não conseguia olhá-los. Não
queria olhar. Entrando depressa procurou sentar-se bem no fundo do ônibus,
onde, provavelmente, ninguém iria incomodá-la. Onde, poderia passar
despercebida.
Após se acomodar, começou a pensar
sobre a noite anterior. Lembrou-se da conversa que teve com o seu namorado.
Conversa dura. Ríspida. Cruel. Fazendo um esforço sobre humano, engoliu o
choro. Não queria que ninguém a visse chorar. Mesmo assim, uma lágrima desceu
dos seus olhos escorrendo pelo seu rosto triste. Infelizmente não tinha opção.
Não tinha alternativa. A vida não fora justa com ela. A vida lhe fora cruel.
Muito cruel.
Os minutos passavam, o destino se
aproximava. O que a confortava era que logo, tudo terminaria. O que era para
ser feito, serio feito e ponto final. As marcas ficariam para sempre. Sabia que
nunca mais seria a mesma pessoa. Nunca mais. A transformação que estava prestes
a acontecer deixaria marcas profundas em todo o seu ser. Marcas profundas em
seu coração. Marcas cruéis. Difíceis de serem superadas. Talvez, impossíveis de
sê-las.
Seus sonhos, seu planos, tudo havia
ido por água abaixo. Não tinha mais vontade de sonhar. Vontade de planejar.
Vontade de viver. Queria sair dali e sumir. Desaparecer. Morrer. Ou,
simplesmente acordar do pesadelo que estava vivendo. Beliscou-se uma, duas, três
vezes e constatou que não estava sonhando. Tudo o que estava vivendo era real.
Muito real.
A angustia só aumentava, então, em
silêncio chorou. Em silêncio rezou. Pediu perdão a Deus pelo que estava prestes
a fazer. Pediu perdão por ser covarde. Perdão por ser omissa. Perdão por não
ter fé.
De repente uma jovem senta-se ao
seu lado.
- Bom dia – disse a jovem para ela,
que fez questão de ignorar sua presença, olhando para fora do ônibus, vendo a
cidade passar.
Mas a jovem continuou.
- Por ser dia de semana o ônibus
estava bem vazio hoje, não?
Mas uma vez, manteve-se em
silêncio. Ignorando a presença da pessoa que, ao seu lado insistia em puxar
assunto. “Será que ela não percebe que eu não quero conversar.” “Que eu quero
ficar a sós, com meu sofrimento.” – pensou sem sequer olhar para o lado.
- Esta tudo bem com você? –
continuou a jovem – Parece que... - ao dizer estas palavras leva a mão a
barriga dela que a segura com força.
Então seus olhares se cruzam. Tensos.
Ansiosos. Então ela é tomada por um sentimento estranho, um sentimento
diferente do que estava sentindo há poucos segundos. De repente, é tomada por
um sentimento de paz. De segurança. Ao olhar nos olhos da moça, que tanto
insiste em chamar-lhe a atenção, sente amor. Um amor que nunca viu, ou sentiu.
Um amor que nunca em sua vida, viveu. Envergonhada ela solta a mão da moça, que
toca devagar em seu ventre.
Lágrimas descem do seu rosto.
Lágrimas de tristeza. Lágrimas de alegria. Lágrimas de não sei o quê. Ela não
sabe o que fazer. Não sabe o que esta sentindo. Nesse momento, só quer chorar.
Nesse momento só quer liberar todo o sentimento ruim que esta dentro do seu
coração. Coração machucado. Chagado. Mas, um coração bondoso.
- Na vida – diz a jovem com as mãos
no seu ventre – muitas vezes parece que entramos num beco sem saída. Aí, não
sabemos o que fazer. Nos desesperamos. Pensamos o pior. Nos esquecemos que as
soluções dos nossos problemas, estão dentro de nós. Dentro do nosso coração. E,
só há um caminho a seguir: O caminho do amor. Só este. Ame! Ame! E ame! Nunca
se esqueça disso. Por mais que as coisas estejam complicadas, difíceis, nunca
se esqueça de amar. Tome suas decisões baseadas, sempre, no amor. No amor que
você sente pela sua família. Pelo seu próximo. E principalmente no amor que
você sente por você mesma. Uma vida baseada no amor torna-se mais fácil. Mais
simples. Afinal, amar não é complicado. Viva o amor, criança. Viva o amor. E
você será feliz. Muito feliz.
- Mas... – tenta dizer algo, mas,
absorta em suas lágrimas, não consegue.
- Não desista. Não se entregue. As
coisas não são fáceis eu bem sei. Mas quem disse que seria. A vida é uma de
rosas: Há a beleza das flores, mas também, os espinhos. E são esses espinhos
que você tem que vencer agora. Não se entregue. Você sabe o que tem que fazer.
Você sabe. Então faça.
- Não consigo, sozinha.
- E quem disse que você esta
sozinha. – ao dizer isso se levanta e vai em direção à porta do ônibus - Nunca
se esqueça. Ame! Ame! Ame! Tome suas decisões baseadas no amor. E, por pior que
pareça a situação que você estará vivendo, saiba que, você nunca estará
sozinha. Saiba que no fim do túnel sempre haverá uma luz. Forte! Bela!
Maravilhosa! Uma luz que transforma vidas. Que transforma o mundo.
Ela ainda lembra do sorriso da
mulher que salvara a sua vida e a do seu filho. Um sorriso doce. Singelo. Um
sorriso pleno, cheio de amor. Anos depois ela ainda não consegue entender como
aquela moça desapareceu tão logo descer do ônibus. Lembra-se que, tão logo a
moça desceu do ônibus ela foi atrás, mas, não mais a viu. Como em um passe de
mágica aquela figura sublime, cheia de amor simplesmente desapareceu. Deixando
em seu coração somente o amor. Afinal, como lhe fora dito: Ame! Ame! Ame!
Assim foi feito!
Marc
Souza
Linda crônica...
ResponderExcluirCrônica simplesmente maravilhosa... Meus parabéns pelo talento...
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