- Ué Zé, você chegou quietinho, não disse nada, aconteceu alguma coisa?
Você parece que está triste.
- É impressão sua.
- Não sei não. Não sei não.
- Sei não o quê? O que você esta
querendo dizer com isso?
- É que eu te conheço, e sei que
você deve estar com algum problema.
- Não é nada não.
- Vamos lá Zé, eu sou seu amigo.
Pode se abrir comigo.
- O quê???
- Zé, vamos lá...
- Você me respeite! Você acha que eu
sou o quê? Eu não costumo fazer isso não. Não sou dessas coisas não. Eu sou é
macho.
- Calma, Zé! Calma!
- Calma! Calma! Se tá me
estranhando?
- Santa ignorância em Zé...
- Nem vem com essa conversinha que
esta santa não existe.
- Eu sei, eu sei. Estou falando para
você deixar de ser ignorante. Não estou sendo mal educado com você, tampouco
estou pondo em dúvida a sua masculinidade.
- Eu sei.
- Eu estou dizendo que você pode
falar sobre qualquer coisa comigo, afinal, sou seu amigo, e talvez possa te
ajudar. Sei que está triste. Posso ver no seu semblante isto.
- No meu o quê?
- No seu rosto. No seu olhar. Na sua
cara. Entendeu agora?
- Ah! Deixa prá lá.
- De jeito nenhum. Vamos Zé, vamos
conversar.
- ...
- Zé???
- Tá bom! Tá bom! Você não vai
desistir mesmo, né?
- Não, não vou. Amigos são para
essas coisas. Como sou seu amigo...
- Sabe o que é? É que minha incursão
pelo meio empresarial, acabou. Pra sempre. Infelizmente a TransZé, faliu.
- Que pena! Desculpe! Eu... Eu...
Sinto muito. Muito mesmo.
- Qué vê eu.
- Mas, caro amigo, eu sei que é
muito difícil esta situação que você esta vivendo, mas, o que você não pode
fazer é desistir. Entregar os pontos. Agora é bola pra frente.
- Bola pra frente? Que bola pra
frente? Você tá louco? Eu não tinha um time de futebol não. Você esta me
confundindo com alguém? Despois você diz que é meu amigo. Minha empresa de
transportes faliu! Não meu time de futebol, aliás, para seu governo eu sequer
sei jogar futebol. Olha, era por isso que eu não queria falar nada, sabe? Eu
estou na pior. Triste. Deprimido. E você me vem com brincadeirinha. Tirando uma
com a minha cara. Ainda se diz meu amigo...
- Calma, Zé! Calma! Você está muito
nervoso.
- Claro que estou. Como você acha
que eu deveria estar? Feliz?
- Zé, entenda uma coisa, quando eu
disse “agora é bola pra frente”e “entregar os pontos” é tudo força de
expressão, ou seja, trocando em miúdos, eu quero dizer para você não desanimar,
não desistir, olhar para frente e seguir a sua vida com Fé, entendeu? Desculpe
eu não quis te ofender, em momento algum. Você é um cara honesto, trabalhador.
Com certeza você irá vencer.
- Tá bom, tá bom, eu já entendi.
- Mas, que mal lhe pergunte, porque
a sua tão promissora empresa foi à bancarrota?
- Banca... Banca... O quê?
- Por que a sua empresa faliu?
- É que o burro fugiu!
- O quê? O burro fugiu?
- Não foi isso que eu disse?
- Mas Zé, como você deixou que isso
acontecesse? Você não amarrou o bicho não?
- Deixei, claro que deixei, o
problema foi a mula. A culpa foi da mula.
- Mula? Que mula?
- Da mula. A mula foi sair com o burro
e acabou dando com o burro n’agua, então, ele fugiu.
- Eu não estou entendendo é nada.
Você nem me disse que tinha comprado uma mula também.
- Mas eu não comprei.
- Então vamos lá, explique o que
aconteceu. Acalme-se e explique, eu estou querendo entender.
- Sabe o que é, é que minha muié foi
dar uma volta no burro, só que aquela mula não sabe nem andar a pé, então, o
desgraçado do burro desembestou pela rua da represa e, para terminar, caíram,
os dois dentro d’agua. Como minha muié não é nenhuma sereia, o burro fugiu
enquanto a mula estava morrendo afogada. E junto com ela você sabe o quê morreu
também...
Marc Souza
Gostei muito da sua história. Muito engraçada e bem delineada. Obrigada pela partilha. Beijinho
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