domingo, 6 de outubro de 2013

REDENÇÃO


Era o dia mais feliz da sua vida. O marco da sua mudança de vida, pois, era o seu primeiro dia de trabalho.
            Levantou-se bem cedo, tomou um belo banho, colocou sua melhor roupa, e saiu.
            Feliz.
            Realizado.
            “Agora tudo vai mudar para melhor” – pensou.
            “Minha vida vai ser outra, o sofrimento, acabou”.
            No caminho, imaginava como seria seu primeiro dia de trabalho.
            Imaginava seus companheiros, seu chefe, a empresa.
            Pensava em trabalhar muito e se dedicar ao máximo, pois, queria vencer. Buscar novos horizontes. Crescer dentro da empresa. Não queria ser mais um, queria ser alguém.
No ônibus, pensava em pedir a mão de sua namorada em casamento. Era o que mais desejava nesse momento. Casar. Ter filhos. Ter uma vida em comum com a pessoa que mais amava. E como ela amava sua namorada. Amava-a mais do que a si mesmo, pois, devia sua vida a ela. Ela foi a responsável por tirá-lo da criminalidade. Do caminho de crimes e violência em que vivia.
No caminho para o serviço se lembrava da época em que era traficante. Dos roubos e seqüestros em que participara. Das cenas de violência em que protagonizara somente para se divertir, ou para demonstrar força frente aos inimigos.
Lembrava-se também, do dia que a vira pela primeira vez, e, se apaixonou. No dia em que sua vida foi mudada, para sempre.
Deste dia em diante ele largou tudo. Começou a freqüentar a igreja. Voltou a estudar. Resolveu trabalhar.
A pressão para que ele voltasse para a criminalidade foi muito grande, mas seu amor falou mais alto. Mas, ele foi forte. Persistente. Não voltou e, agora, estava com a vida totalmente mudada, indo para o seu primeiro dia de trabalho.
Desceu do ônibus, respirou fundo tentando controlar a ansiedade e pôs-se a andar. Agora faltava poucos metros para chegar à empresa. Para o tão sonhado primeiro dia de trabalho.
De repente tiros. Tiros por todos os lados. As pessoas, apavoradas, correm de um lado para outro, procurando abrigo. No meio do fogo cruzado, não sabe o que fazer. A rua está um caos.
Carros de civis param, fazendo manobras retornando na contramão, apavorados. Ele corre, então, sente que foi atingido por algo, perde o equilíbrio e cai inconsciente.
A última imagem que vê é sua namorada beijando-o apaixonadamente antes da partida para o trabalho.
No chão, já sem vida, esboça um tímido sorriso.

Enquanto as pessoas passam correndo, desesperadas, sem, sequer, notarem sua presença.

Marc Souza

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