terça-feira, 19 de novembro de 2013

O que realmente vale nesta vida


Ele tinha tudo mesmo assim, era um poço de problemas, e, pela quinta vez seguida, fora preso, desta vez, por destruir um veículo que estava estacionado na rua.
Após exames, nada foi constatado, ele não estava bêbado, não estava drogado, tampouco, fora de si.
Estava normal. Calmo. Tranqüilo.
Sentado em uma poltrona da delegacia de policia esperava seu pai, que rapidamente, chegou, acompanhado de um advogado, pagou a fiança e saiu, sem dar-lhe qualquer tipo de atenção, afinal estava com pressa.
Com a situação já resolvida ele sai da delegacia, entra no seu carro importado, e sai pelas ruas da cidade, tranquilamente, não sai em alta velocidade, não canta os pneus, sai do local devagar.
No caminho de volta para casa, pensa no que fez se arrepende, e chora, chora muito, pois, novamente, não conseguiu o que queria.
Todos pensam que ele é só traz problemas, que só causa transtorno para todos a sua volta, não tem amigos, não tem namorada. Vive só.
Os conhecidos lhe acusam de não dar valor ao que tem.
A sua boa vida, a sua boa família ao muito dinheiro que tem.
Ele é de uma família muito influente na sociedade, seu pai, é um grande advogado, que tem clientes no país inteiro e representa grandes empresas multinacionais.
Sua mãe, dona de uma rede de botiques caras, que têm filiais em todo país.
Ambos, muito importantes.
Ambos muito influentes, considerados esteios da sociedade.
No entanto, nada disso importa a ele, dinheiro e poder, para ele, nada disso tem importância, nada disso tem sentido.
Tudo o que ele faz, todas as confusões em que se mete, tem como intuito único a de chamar a atenção de seus pais.
Pais que deram a ele tudo o que dinheiro pode comprar.
Pais que o educaram na melhor escola da cidade, que lhe deram a melhor faculdade.
Pais que lhe deram um carro zero quilometro quando completou dezoito anos, e um apartamento aos vinte e um.
Esses mesmos pais que nunca lhe deram atenção, carinho, amor.
Foi criado pela governanta.
Seus pais, sempre estiveram ausentes, cuidando dos negócios da família, nunca lhe deram um abraço, um beijo.
Não se lembra quantos aniversários, passou só.
Quantas vezes teve vontade de conversar com sua mãe, mas ela não estava.
Quantas dúvidas tinha acerca da vida sexual que estava se iniciando, e que, não teve seu pai para sana-las, para conversar.
Ele teve tudo, mas não teve nada.
Agora, com certa frequencia, começou a se meter em confusões, brigas, desentendimentos.
Tudo para chamar a atenção.
Mas, em vão.
Nunca bebeu, nem fumou, tampouco usou drogas, sempre quis ser um filho exemplar, e fez tudo pára que fosse aceito pelos pais, reconhecidos por eles, no entanto, nunca teve a atenção que tanto ansiava ter.
Eles sempre estavam ocupados demais.
Não tinham tempo.
Agora após entrar em nova confusão, não conseguiu o que queria, seu pai chegou à delegacia e saiu rapidamente sem ao menos trocar uma palavra com ele.
Sua mãe sequer ligou-lhe.
Então, ele chora, chora muito, sente um forte dor no seu peito, queria dizer aos pais que os amava, abraça-los beija-los, por uma vez sequer.
Queria sentir-se em uma verdadeira família.
Mas os compromissos, o trabalho, o dinheiro, eram um verdadeiro entrave para seus desejos.
Ele toma uma decisão.
De repente, pára o carro, próximo a uma ribanceira.
Ao descer do carro, caminha até o local observando a profundidade.
Tira a roupa ficando apenas de shorts, joga a roupa dentro do carro, liga-o, coloca uma pedra no acelerador e outra na embreagem, engata o carro que esta bem acelerado, então, saindo do carro, retira rapidamente a pedra que esta na embreagem fazendo com que o mesmo, arranque e caia ribanceira a baixo.
Enquanto o carro cai, ele caminha lentamente pela rodovia, esboçando um ar de felicidade.
Parece que tirou um peso das costas, sente-se feliz, muito feliz.
Horas depois, o carro fora encontrado, totalmente destruído.
Ele nunca mais foi visto, alguns acreditam que, após a queda ele ficou muito machucado e ao tentar pedir ajuda veio a morrer no interior da floresta que havia nos pés da ribanceira, ou até, que fora devorado por algum animal.
Ao saber do acidente seu pai sofreu um enfarto, vindo a morrer horas depois.
Sua mãe, dias depois, foi internada em um hospício, com depressão profunda, pois, após o acidente sentiu-se culpada, e arrependida por nunca ter dito ao filho o quando o amava, hoje, vive com uma criança no colo, vinte e quatro horas por dia, abraça-a e a beija, a todo instante, dizendo a mesma que a ama.
Quanto a ele, hoje é casado, pai de dois filhos, vive em uma favela localizada em uma cidadela do interior, para viver, trabalha como pedreiro, não tem dinheiro, não tem luxo, não tem poder, mas tem algo, que o faz muito feliz e realizado que é o amor de sua esposa e de seus filhos.


Marc Souza

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