sexta-feira, 30 de agosto de 2013

DESTINO


DESTINO

            Ele nasceu e cresceu em um bairro muito pobre. No local, a violência imperava, e, os traficantes davam as cartas. Mandavam em tudo e em todos. Criavam as suas próprias leis. Desde criança conviveu com esse mundo, que, de tempos em tempos, levava um de seus amigos. Seja para o vicio, para cadeia ou para a morte.
            Apesar das situações adversas que vivia, ele nunca se envolveu com este mundo. Nunca traficou, ou usou drogas. Nunca roubou, apesar de ter pensado algumas vezes em fazer isso. Passou ileso a estas situações.
            Sua vida era o campo de futebol. De terra batida, cheio de buracos e com os gols feitos de madeira, ela passava o dia todo, descalço, brincando com sua bola velha, surrada pelo tempo e pelo choque contra o chão duro. Nele jogava grandes partidas, imaginárias claro, mas, grandes partidas. E que partidas. Nelas ele era o ídolo. O artilheiro. O campeão. O melhor do mundo.
            Um dia, nestas reviravoltas que só a vida dá, um rapaz que passava pelo campo de futebol viu-o jogar e ficou fascinado com sua habilidade. Então, levou-o para um time de futebol da cidade para fazer um teste. Depois outro. Logo ele assinou um contrato. Depois outro. Aquele menino, que jogava futebol no campo esburacado de terra tornou-se jogador de futebol.
            Jogou em grandes clubes de futebol. Jogou na seleção. Correu o mundo com sua arte. Ganhou dinheiro. Muito dinheiro. Comprou casas, carros, iates. Ficou rico. Com a riqueza, começaram os problemas. Problemas pessoais. Problemas profissionais. Problemas de indisciplina. Foi afastado de um clube uma vez. Depois outra.
            De repente não conseguia mais se controlar. Tornou-se um problema. Um grande e caro problema. Aos poucos as propostas foram rareando. Voltou ao país. Não conseguiu se adaptar a clubes grandes.
            Começou a jogar em clubes pequenos, de pouca expressão, mas, mesmo assim, o ônus para estes clubes eram maior que o bônus. Então, jovem, teve que abandonar o futebol.
            Hoje, ele pode ser visto na periferia da cidade, jogando em um campinho de futebol de terra batida, cheio de buracos, com uma bola velha. Corre de um lado para outro, sozinho, comemorando seus gols e abraçando seus amigos imaginários.
            Após o jogo, ele segue descalço, para a sua casa simples, onde guarda todas as lembranças do que um dia foi.


Marc Souza

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