segunda-feira, 13 de junho de 2016

Por que JK Rowling não consegue superar Harry Potter e deixar os holofotes?

Rodrigo Casarin
 
rowling
Em 2007 JK Rowling lançou “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, sétimo livro e, conforme então prometido, o final da saga de seu célebre bruxo. No entanto, o que vimos nos anos seguintes foi que a autora jamais colocou, de fato, um ponto final na obra. Isso apenas se confirma agora, com a chegada da história ao teatro.
Na peça “Harry Potter and the Cursed Child'' (Harry Potter e a Criança Amaldiçoada), que pré-estreou ontem em Londres e cujo roteiro virará livro, a história se passa 19 anos depois daquele que seria o último episódio da saga e nos apresenta o problemático Albus, filho mais novo de Potter, que, por sua vez, tornou-se um funcionário do Ministério da Magia.
A nova narrativa é apenas mais um episódio da série de intervenções que Rowling fez na história mesmo após dá-la por encerrada com “Harry Potter e as Relíquias da Morte”. Debruçando-se sobre o universo do bruxo, ficcionalizou sobre o passado dos Estados Unidos – e foi criticada pela maneira que tratou os índios. Inventou, em fevereiro deste ano, que além de Hogwarts existem outras onze escolas de magia espalhadas pelo mundo – sendo uma delas no Brasil. Por meio do site Pottermore, também já criou textos que falam sobre o passado de alguns personagens, como Dolores Umbridge. E o hábito não é de hoje: em 2007 mesmo, logo após a publicação do sétimo livro da saga, Rowling disse que Alvo Dumbledore, um dos principais magos da história, era homossexual, algo que não escreveu em parte alguma dos livros. Isso apenas para ficarmos em alguns exemplos.
Não bastasse acrescentar detalhes e interpretações à saga de Potter – cujos livros em português somam 3224 páginas, espaço suficiente para se desenvolver todos os aspectos desejáveis da narrativa -, ocasionalmente a autora também emite opiniões sobre seu próprio trabalho ou a respeito de temas que pouco lhe dizem respeito. Foi assim no final do ano passado, quando revelou que seu trecho preferido de autoria própria estava no capítulo 34 de “Harry Potter e as Relíquias da Morte''. Foi assim em maio recente, quando, em seu Twitter, pediu desculpas por Remo Lupin ter morrido em uma batalha. Foi assim duas semanas depois, quando, em nome da liberdade de expressão, defendeu o direito de Donald Trump ser “ofensivo” e “preconceituoso”. Ontem mesmo se manifestou criticando o “bando de racistas” que desaprova a atriz negra que interpreta Hermione no teatro – uma bola dentro da autora, diga-se.
A verdade é que dificilmente há uma semana sem que Rowling dê algum motivo para virar notícia. Escrever uma obra que se tornou referência para jovens do mundo inteiro, vendeu mais de 450 milhões de exemplares e a transformou em uma das pessoas mais ricas do mundo, com fortuna superior a US$ 1 bilhão, não lhe bastou. Parece que tal qual um dementador sugando a felicidade dos bruxos, a autora precisa da atenção constante dos fãs para que não mingue. Mas ela é uma pessoa ainda jovem – tem 50 anos -, então por que não tenta construir outra obra de tamanho sucesso junto ao público que já possui? Ou por que gasta tanta energia criando factoides em vez de trabalhar melhor o seu Robert Galbraith, pseudônimo com o qual publica livros policiais?
Fui um jovem que cresceu lendo “Harry Potter” e odiava deixar aquele universo fantástico quando cada livro acabava. Pelo visto, Rowling sofre do mesmo problema, no entanto, como ela é a dona do brinquedo, jamais conseguiu, de fato, sair dos cantos e entornos de Hogwarts. E, enfeitiçada pelos holofotes, jamais sequer tentou não estar em evidência.

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