segunda-feira, 10 de março de 2014

UM CONTO


  
Todos os dias era a mesma coisa. Sentada no ponto de ônibus ela vivia a imaginar. Imaginava uma vida melhor. Uma vida feliz, longe dos problemas e das dificuldades que vivia diariamente. Imaginava viver um amor. Um grande amor. Sentada no banco ficava a imaginar quando um príncipe encantado chegaria em seu cavalo branco lindo, e, lhe arrebatasse para viver um lindo conto de amor. Um verdadeiro conto de fadas.
Mas todos os dias era a mesma coisa. Logo o ônibus pararia e ela voltava a vida normal. Tomaria o ônibus lotado onde pareceria mais uma sardinha enlatada, andaria por uma hora até chegar ao trabalho e, no final da tarde retornaria à sua casa, sozinha, sem um amor. Sem viv’alma para conversar. Para desabafar. Para amar.
Como não poderia ser diferente, naquele dia chegou dez minutos antes do ônibus. Mas, algo aconteceu, algo diferente, pois, antes que ela se sentasse um belo carro parou ao seu lado e um rapaz, fez-lhe um sinal. Ela ignorou-o, mas, ele insistiu. De repente desceu do carro, e, sem dizer uma palavra sequer, abraçou-a e beijou-a, apaixonadamente.
- Todos os dias... Todos os dias passo por aqui e a vejo – disse ele - hoje, tomei coragem, para dizer-lhe: Sou completamente apaixonado por ti.  Eu te amo. – diz olhando em seus olhos.
- Mas... Mas eu nem lhe conheço... Eu... Eu nem sei...
- Eu te amo! Eu te amo! – grita ele chamando a atenção de todos que estão no local. Então ele se ajoelha. – Oh, meu amor! Abro agora o meu coração. Eu te amo! És a mulher da minha vida! A escolhida por meu coração, para amar por toda a vida. Por isso agora dispo-me de todo o meu ser e lhe peço e lhe imploro, venha comigo. Venha comigo e farei de você a mulher mais feliz do mundo.
Vendo tão bela declaração ela da adeus a razão. Esquece o bom senso e se entrega ao amor. Então ambos saem em disparada com o carro para viver um grande amor, enquanto no ponto de ônibus todos batem palmas entusiasmadamente por presenciarem tão belo momento.
A felicidade toma conta de si. De repente ela se esquece de todos os seus problemas, de todas as suas dificuldades, e dá as costas para a sua vida. Para viver uma vida nova. Uma vida de esperança. De amor. Sente-se feliz. Pela primeira vez na vida, sente viva. Isso mesmo sente-se viva. Sente o sangue escorrer pelas veias, chega a ouvir seus batimentos cardíacos.
Feliz. Uma felicidade contagiante. Uma felicidade verdadeira.
O carro está a toda velocidade pelas ruas da cidade, então um carro cruza à sua frente, que freia e buzina. Ela se assusta, e fecha os olhos, de repente, toda a sua vida passa como um filme. 
Silêncio total.
De repente outra buzinada.
Então ela abre os olhos e nota algo diferente. Não há carro, não há acidente. Só o ônibus lotado que parado à sua frente buzina.
- Ei, sua maluca, você não vai ao trabalho hoje não? – grita o motorista.
E tudo volta ao normal.

Marc Souza


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