Não
havia musica que Amélia mais odiava que: “Ai que saudade da Amélia”, não podia
acreditar que existisse uma mulher como tal. E, o que era pior, não suportava
as brincadeiras a que era obrigada a ouvir por causa do seu nome. Até por que
ela era o oposto da Amélia da música. Ela era independente, lutava pelo o que
acredita, por isso não escondia sua insatisfação quando alguém chegava próximo
a si e começava a cantar: “Aquilo que era mulher...”.
Amélia
acreditava na igualdade entre o homem e a mulher. Ou melhor, acreditava que o
homem devia fazer de tudo para agradar a mulher. Não conseguia entender, nem
aceitar uma música como aquela, musica que, para ela, em momento algum
enaltecia a mulher por suas lutas, e sim, por sua acomodação, aceitação,
subserviência ao homem. E isso era inadmissível. “Essa história de passar fome
e achar bonito não ter o que comer. De mulher não ter vaidade. Não existe” –
dizia.
Por
isso vivia a criticar as mulheres que abdicavam da sua vida pelo marido, pelo
casamento. “A mulher não é simplesmente uma máquina de fazer filhos e limpar a
casa.” – afirmava.
Bonita,
bem sucedida, Amélia namorara poucas vezes, com trinta e sete anos já estava
ficando para titia, bem, ficando não já era titia. Todas as suas amigas de
infância já haviam se casado.
Mas,
apesar de mostrar-se casca dura, Amélia, era sim, uma mulher romântica. E como
todas as mulheres românticas, sonhava com a chegada de seu príncipe encantado,
que, montado em seu cavalo branco, a arrebataria e a levasse para seu castelo onde
viveriam felizes para sempre. Um homem que viveria para lhe fazer feliz. Que não gostasse de futebol, sem amigos e sem
ex-namoradas. Que a trataria como uma princesa, ou melhor, como uma rainha.
“Este
homem que você deseja, infelizmente, não existe” – diziam suas amigas. “Ou é o
bar, ou o futebol, os homens nunca vêem sozinhos. Sem contar com aqueles que
vêm com os dois”.
“Por
isso que estou sozinha” – respondia – “Eu que não vou ficar em casa passando
roupa enquanto o meu marido sai para jogar futebol ou beber cerveja com amigos.
Não sou empregada de ninguém. No meu lar, serei a rainha. Vocês que são umas
bobas, idiotas”.
Mas
todas sabiam que tudo o que ela dizia era da boca para fora, em seu intimo Amélia
se sentia triste e sozinha.
Um
dia Amélia apareceu com uma grande noticia: Estava apaixonada, pois, havia
encontrado o homem da sua vida, o seu príncipe encantado.
A
princípio ninguém acreditou nela. Pensaram até em mandar interna-lá. Ela havia
ficado louca. Afinal, achar alguém para chamar de príncipe, ainda mais para ela
chamá-lo, com todas as suas exigências e manias era quase que um milagre. Ou
loucura. Não que não acreditassem em milagres, mas, preferiram acreditar em
loucura. Amélia estava louca.
Aos
poucos o que parecia um delírio foi se tornando realidade. Amélia
definitivamente encontrara o amor. E para provar isso, marcou um jantar com
toda a família e amigos.
Todas
estavam ansiosas para ver e conhecer seu príncipe encantado. Algumas diziam que
ele deveria estar à beira da morte, outras que ele, deveria ser terrivelmente feio.
Teve até quem achara que ele era gay e ela teria um casamento de aparências.
No
dia do jantar todas estavam lá e preparadas para rirem de Amélia e ver seu
príncipe da forma que ele realmente seria: Um sapo.
Más
línguas. Más amigas. Invejosas. Incomodadas com a felicidade alheia. Não
queriam acreditar que Amélia havia tirado a sorte grande e que, diferentemente
delas havia encontrado um príncipe de verdade.
Ele não chegou montado em um cavalo branco,
mas, a sua beleza causou uma grande surpresa. A inveja começou, quando viram a
sua postura e a sua educação. O “sapo” era um príncipe. Perfeito! O homem que
Amélia sempre sonhara. O homem que elas acreditaram não existir. Ou melhor,
existir somente na imaginação de Amélia.
Amélia
tirara a sorte grande. Enfim, seria a rainha do seu lar, como sempre sonhara. Naquele
dia, nenhuma de suas amigas conseguiu dormir, tamanha inveja que sentiam.
Dias
depois; o casamento. Amélia, enfim, se tornara a rainha que tanto sonhara.
“Que
inveja”. – pensavam as amigas – “Que inveja”.
Aquele
fora o dia mais feliz de Amélia até então. E o dia mais difícil para suas
amigas. O dia em que tiveram que aceitar que Amélia sempre tivera razão. Sempre
estivera certa e elas... E elas... Corroíam-se por dentro...
Dias
depois, querendo presenciar a vida de rainha que Amélia estaria vivendo, suas amigas
se reuniram e foram visitá-la. Ansiosas para verem a Rainha que ela se tornara.
Foram sem avisar, afinal era sábado à tarde, e quem sai aos sábados à tarde?
Com certeza Amélia estaria em seu castelo com seu rei.
Então,
aproveitando-se que seus “príncipes” saíram para jogar futebol foram elas, visitar
a “rainha Amélia”.
Ao
chegar à casa de Amélia, a surpresa: não havia castelo, não havia rainha. O rei
havia saído fora jogar futebol com os amigos enquanto a “rainha” passava uma
enorme pilha de roupas. E, o que era pior, Amélia em nada se parecia com a
Amélia que estavam acostumadas ver. Ela estava com as unhas por fazer, os
cabelos, que cuidava com grande esmero, chegando a gastar fortunas para
mantê-lo sempre maravilhoso, aparentemente quebradiço, sem vida. Amélia tentou
disfarçar, mas era tarde demais. O castelo, de areia, havia desmoronado.
Nesse
momento suas amigas foram acometidas por um grande sentimento de: Felicidade. A
inveja se foi. Aquele sentimento mesquinho que sentiam se dissipou. Não havia
mais rainhas ou plebéias. Não havia mais conto de fadas, agora era a vida real.
E se sentiram feliz por isso, mas, com uma pontinha de tristeza, afinal eram
amigas de Amélia e a amavam.
A
tarde foi maravilhosa, feliz. Tão feliz que até combinaram de se reunirem na
próxima semana.
Ao
deixarem à casa de Amélia, suas amigas, não puderam se conter, e, felizes, foram
embora cantando: “Amélia não tinha a menor vaidade. Amélia que era mulher de
verdade...”.
Olá Marc!
ResponderExcluirLi seu conto e, no geral, gostei.
Apenas dois ou três erros de digitação e concordância, que podem ser eliminados facilmente após uma pequena revisão.
Às vezes as pessoas me perguntam "tá, mas o que você quis dizer com isso?" depois que terminam de ler meus contos. E na maioria das vezes respondo que é só uma história, que nem sempre precisa ter uma "moral" ou um significado embutido.
Mas é engraçado que ao ler os textos dos outros, essa mesma pergunta se forma na minha cabeça "o que ele quis dizer com isso?" kkkkkk
Primeiramente achei que seria uma história de apologia ao feminismo. Depois pensei que tomaria o rumo de ironizar o feminismo. Em seguida começou a tratar de inveja e tal. Acabou num clima de amizade e "ninguém é perfeito".
Fiquei com a impressão que a história poderia ficar melhor se abordasse uma variedade menor de temas.
Mas nada que tire o mérito do conto, que conseguiu prender a minha atenção até o desfecho.
Abraço!