Poesias, Contos e Crônicas de Marc Souza e mais, as principais notícias culturais do Brasil e do Mundo
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
domingo, 29 de dezembro de 2013
sábado, 28 de dezembro de 2013
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
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sábado, 21 de dezembro de 2013
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
domingo, 15 de dezembro de 2013
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
AMÉLIA
Não
havia musica que Amélia mais odiava que: “Ai que saudade da Amélia”, não podia
acreditar que existisse uma mulher como tal. E, o que era pior, não suportava
as brincadeiras a que era obrigada a ouvir por causa do seu nome. Até por que
ela era o oposto da Amélia da música. Ela era independente, lutava pelo o que
acredita, por isso não escondia sua insatisfação quando alguém chegava próximo
a si e começava a cantar: “Aquilo que era mulher...”.
Amélia
acreditava na igualdade entre o homem e a mulher. Ou melhor, acreditava que o
homem devia fazer de tudo para agradar a mulher. Não conseguia entender, nem
aceitar uma música como aquela, musica que, para ela, em momento algum
enaltecia a mulher por suas lutas, e sim, por sua acomodação, aceitação,
subserviência ao homem. E isso era inadmissível. “Essa história de passar fome
e achar bonito não ter o que comer. De mulher não ter vaidade. Não existe” –
dizia.
Por
isso vivia a criticar as mulheres que abdicavam da sua vida pelo marido, pelo
casamento. “A mulher não é simplesmente uma máquina de fazer filhos e limpar a
casa.” – afirmava.
Bonita,
bem sucedida, Amélia namorara poucas vezes, com trinta e sete anos já estava
ficando para titia, bem, ficando não já era titia. Todas as suas amigas de
infância já haviam se casado.
Mas,
apesar de mostrar-se casca dura, Amélia, era sim, uma mulher romântica. E como
todas as mulheres românticas, sonhava com a chegada de seu príncipe encantado,
que, montado em seu cavalo branco, a arrebataria e a levasse para seu castelo onde
viveriam felizes para sempre. Um homem que viveria para lhe fazer feliz. Que não gostasse de futebol, sem amigos e sem
ex-namoradas. Que a trataria como uma princesa, ou melhor, como uma rainha.
“Este
homem que você deseja, infelizmente, não existe” – diziam suas amigas. “Ou é o
bar, ou o futebol, os homens nunca vêem sozinhos. Sem contar com aqueles que
vêm com os dois”.
“Por
isso que estou sozinha” – respondia – “Eu que não vou ficar em casa passando
roupa enquanto o meu marido sai para jogar futebol ou beber cerveja com amigos.
Não sou empregada de ninguém. No meu lar, serei a rainha. Vocês que são umas
bobas, idiotas”.
Mas
todas sabiam que tudo o que ela dizia era da boca para fora, em seu intimo Amélia
se sentia triste e sozinha.
Um
dia Amélia apareceu com uma grande noticia: Estava apaixonada, pois, havia
encontrado o homem da sua vida, o seu príncipe encantado.
A
princípio ninguém acreditou nela. Pensaram até em mandar interna-lá. Ela havia
ficado louca. Afinal, achar alguém para chamar de príncipe, ainda mais para ela
chamá-lo, com todas as suas exigências e manias era quase que um milagre. Ou
loucura. Não que não acreditassem em milagres, mas, preferiram acreditar em
loucura. Amélia estava louca.
Aos
poucos o que parecia um delírio foi se tornando realidade. Amélia
definitivamente encontrara o amor. E para provar isso, marcou um jantar com
toda a família e amigos.
Todas
estavam ansiosas para ver e conhecer seu príncipe encantado. Algumas diziam que
ele deveria estar à beira da morte, outras que ele, deveria ser terrivelmente feio.
Teve até quem achara que ele era gay e ela teria um casamento de aparências.
No
dia do jantar todas estavam lá e preparadas para rirem de Amélia e ver seu
príncipe da forma que ele realmente seria: Um sapo.
Más
línguas. Más amigas. Invejosas. Incomodadas com a felicidade alheia. Não
queriam acreditar que Amélia havia tirado a sorte grande e que, diferentemente
delas havia encontrado um príncipe de verdade.
Ele não chegou montado em um cavalo branco,
mas, a sua beleza causou uma grande surpresa. A inveja começou, quando viram a
sua postura e a sua educação. O “sapo” era um príncipe. Perfeito! O homem que
Amélia sempre sonhara. O homem que elas acreditaram não existir. Ou melhor,
existir somente na imaginação de Amélia.
Amélia
tirara a sorte grande. Enfim, seria a rainha do seu lar, como sempre sonhara. Naquele
dia, nenhuma de suas amigas conseguiu dormir, tamanha inveja que sentiam.
Dias
depois; o casamento. Amélia, enfim, se tornara a rainha que tanto sonhara.
“Que
inveja”. – pensavam as amigas – “Que inveja”.
Aquele
fora o dia mais feliz de Amélia até então. E o dia mais difícil para suas
amigas. O dia em que tiveram que aceitar que Amélia sempre tivera razão. Sempre
estivera certa e elas... E elas... Corroíam-se por dentro...
Dias
depois, querendo presenciar a vida de rainha que Amélia estaria vivendo, suas amigas
se reuniram e foram visitá-la. Ansiosas para verem a Rainha que ela se tornara.
Foram sem avisar, afinal era sábado à tarde, e quem sai aos sábados à tarde?
Com certeza Amélia estaria em seu castelo com seu rei.
Então,
aproveitando-se que seus “príncipes” saíram para jogar futebol foram elas, visitar
a “rainha Amélia”.
Ao
chegar à casa de Amélia, a surpresa: não havia castelo, não havia rainha. O rei
havia saído fora jogar futebol com os amigos enquanto a “rainha” passava uma
enorme pilha de roupas. E, o que era pior, Amélia em nada se parecia com a
Amélia que estavam acostumadas ver. Ela estava com as unhas por fazer, os
cabelos, que cuidava com grande esmero, chegando a gastar fortunas para
mantê-lo sempre maravilhoso, aparentemente quebradiço, sem vida. Amélia tentou
disfarçar, mas era tarde demais. O castelo, de areia, havia desmoronado.
Nesse
momento suas amigas foram acometidas por um grande sentimento de: Felicidade. A
inveja se foi. Aquele sentimento mesquinho que sentiam se dissipou. Não havia
mais rainhas ou plebéias. Não havia mais conto de fadas, agora era a vida real.
E se sentiram feliz por isso, mas, com uma pontinha de tristeza, afinal eram
amigas de Amélia e a amavam.
A
tarde foi maravilhosa, feliz. Tão feliz que até combinaram de se reunirem na
próxima semana.
Ao
deixarem à casa de Amélia, suas amigas, não puderam se conter, e, felizes, foram
embora cantando: “Amélia não tinha a menor vaidade. Amélia que era mulher de
verdade...”.
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
CONTO DE UM AMOR SEM LIMITES
Faltavam
poucas horas para tudo, definitivamente, acabar. Poucas horas, então, tudo
aquilo se transformaria em lembranças. Boas. Ruins. Mas, somente, lembranças.
De
repente, tudo desapareceria. Para sempre. Todo sempre. As ruas. As casas. As
praças. Tudo seria engolido pelas águas. Logo, a cidade transformar-se-ia em
história. Submersa. Solitária no fundo de uma imensidão sem fim de água.
O
progresso é cruel. Não há sentimentos, portanto, não há compaixão. O país
precisa de energia elétrica. Precisa crescer. A usina hidrelétrica estava
pronta. Em poucas horas as comportas se fechariam. E tudo o que ali estava, desapareceria
por completo. Desapareceria para sempre. Tudo se transformaria em um mar de
água doce. Um grande mar de água doce que traria conforto e progresso, para
milhares, milhões de pessoas.
Por
isso, a cidade estava fazia. Totalmente deserta. Só restavam lembranças.
Histórias passadas. Vividas. Fantasmas de um povo, que viveu por centenas de
anos, e, que foi obrigado a abandonar as suas casas. Seus lares. Suas vidas.
Suas histórias.
No
silêncio da cidade morta. Um barulho. Um barulho?
Dona
Menina esta sentada em sua cadeira de balanço, na varanda de sua casa. O
barulho é do balanço, que, incansável, vai de um lado para o outro. De um lado
para o outro. De um lado para outro.
O
tempo passa. Esgota-se. E dona menina a balançar. Alheia a tudo, dona Menina
vai de um lado para outro, de um lado para outro.
Mas,
há um problema, dona menina não esta alheia a tudo. Pelo contrário, dona menina
esta muito ciente de tudo. Sabe que o tempo é curto. Sabe que em horas, tudo
não passará de história. Lembranças do que um dia foi. Mas, mesmo assim, esta
lá, sentada em sua cadeira de balanço indo e voltando, indo e voltando, a
balançar. A esperar. Ela não espera a morte. Apesar da morte ser um ser iminente,
ela, não a espera. Ela espera algo mais importante. Algo que esperou por sua
vida inteira. E não arredará o pé, antes, que este chegue.
Vizinhos.
Amigos. Os poucos familiares que lhe restaram. Até o prefeito veio até dona Menina
a fim de persuadi-la a sair dali. Mas, em vão. Então, sendo mulher feita,
consciente e sabedora dos infortúnios que aguardam-na, foi abandonada à própria
sorte, ou, a sua própria vontade. Afinal só ela pode se salvar.
Aos
75 anos, dona Menina passara a sua vida inteira, ali, sentada na varanda a
esperar. A olhar para o horizonte perdido. Em sua cadeira de balanço de um lado
para outro, de um lado para outro.
Olhando
o horizonte, relembra os bons e maus momentos que vivera. Lembra-se do amor de
sua vida. Aquele a quem ela se entregou, de corpo, alma e coração. Aquele a
quem amou todos os dias da sua vida. Aquele, que, por covardia, perdeu.
Olhando
para o horizonte sem fim, espera. Espera a chegada daquele que foi o fruto do
seu amor. Resultado de um amor que nem o tempo conseguiu apagar.
Dona
Menina era jovem e bela, a mais bela da cidade. Naquela época era a única
mulher na cidade com formação superior, fruto de vários anos na capital do
estado. Bom partido, o melhor da cidade, vivia sendo cortejada pelos homens.
Homens ricos, influentes. Homens considerados de bem.
Mas,
dona Menina, não podia mandar no coração, aliás, ninguém consegue fazê-lo, por
isso, apesar de inúmeros pretendentes, Menina apaixonou-se por um homem de fora
da cidade. Um forasteiro como diziam, os moradores.
Foi
amor à primeira vista.
De
repente, estava apaixonada.
Estavam
apaixonados. Perdidamente apaixonados.
A
guerra começou. Todos eram contra o namoro de Menina, que brigou, lutou, fez
chover, mas, não conseguiu demovê-los, não conseguiu a aprovação da família
quanto ao seu namoro e as reais intenções de seu namorado.
“É
um vagabundo!” – dizia o pai – “Uma pessoa sem eira nem beira.”
“Ele
só quer brincar com você, Menina.” – completava a mãe – “Será que só você não
vê?” “Será que você não percebe isso?”.
Mas,
Menina não queria nem saber o que os pais diziam, por isso começou a
encontrá-lo às escondidas, na calada da noite. Com a desculpa de ir à reza na
casa de uma ou de outra amiga, saía e se encontrava com seu grande amor. Perdidamente
apaixonada, entregou-se a ele, no dia, a que considerava o dia mais feliz da
sua vida. O dia ao qual nunca se esqueceu. Mesmo com o passar dos anos. Os
muitos anos, sem que nunca, por um dia sequer, se esquecesse daquele dia.
Um
dia, a noticia, ele iria embora. Teria que ir embora. Por causa do seu
envolvimento com Menina, ele fora despedido do emprego, e, ninguém, ninguém na
cidade tinha coragem de lhe contratar, ou melhor, ousava contratá-lo, pois,
todos tinham medo do pai dela.
Naquele
dia ele estava triste, arrasado. Definitivamente acabado. Sem dinheiro e sem
posses teria que ir embora. Deixar a cidade em busca da sua sobrevivência.
Pediu,
para que Menina fosse embora com ele. Disse que a amava e queria casar-se.
Menina pensou, pensou, mas não foi. Não teve coragem de abandonar sua vida, sua
família. Amava aquele homem, era verdade. Amava-o mais do que qualquer pessoa
pudesse imaginar. Mais do que a própria vida. Menina não conseguiu desafiar o
pai. Não tinha forças para isso. Na verdade, não fora criada para isso.
Chorando,
Menina viu-o partir. Para sempre. Viu seu amor, sua felicidade escapar pelos
dedos das mãos como areia fina. Viu-o partir, para nunca mais voltar.
Aquilo
foi demais para Menina, que passou duas, três semanas sem ao menos sair do
quarto. Não conversava com ninguém. Não ouvia ninguém. E comia pouco, muito
pouco. Comia o suficiente para manter-se viva.
De
repente percebeu que algo estranho estava acontecendo com ela. Sentia fraqueza.
Enjôos. De repente percebeu estar grávida. A princípio ficou feliz. Depois, desesperada.
Grávida. Sem um marido. Aquilo seria seu fim. Uma vergonha, para si, e,
principalmente para a sua família.
Devia
ter ido embora, mas, não fora, agora, teria que enfrentar aquela situação de
frente.
A
noticia da gravidez caiu como uma bomba na família. Menina foi ofendida,
humilhada pelos pais. Se perder a virgindade antes do casamento já era motivo
de vergonha na família naquela época, imagina uma gravidez.
Dias
depois, Menina e sua mãe deixaram a cidade com destino à capital. Para que
Menina estudasse, disseram. Meses depois, ela deu a luz a um menino. “A cara do
pai” – pensou – ao receber o filho pela primeira vez em seus braços. Nesse
momento, chorou de alegria. Chorou, também, por lembrar-se dos momentos
maravilhosos que vivera com o pai dele.
Após
o nascimento da criança, Menina e a mãe viveram por um tempo na capital. Tinham
uma vida boa, mas, silenciosa, Menina vivia quase o tempo todo em silêncio.
Quase não conversava com a mãe ou com qualquer outra pessoa que viessem
visitá-las. Vivia para o filho: Banhava-o, amamentava-o, dedicava-se
completamente a ele. Que era a sua alegria. A única alegria que tivera, naquela
infeliz vida.
Em
uma manhã, sua mãe, pediu para ela arrumasse as malas, pois, voltariam para
casa. Menina arrumou tudo e pôs-se a esperar, brincando com o filho que
insistia a sorrir-lhe o tempo todo.
Horas
antes de partir, uma tia chegou à casa. Friamente sua mãe pediu-lhe para a
filha dar o menino à tia. A partir daquele momento ela seria a mãe do filho de
Menina.
Aquilo
deixou Menina desesperada. Ela chorou. Pediu. Implorou. Ameaçou fugir. Mas, não
demoveu a mãe da decisão.
Sem
qualquer ressentimento a tia pegou o filho dos braços de Menina e se foi. A criança chorava desesperadamente, mas, nada
fez com que desistissem de toda a maldade para com Menina e seu filho.
Ao
ver o filho partir, Menina ainda correu atrás do carro onde estavam a tia e o
filho. A tia parou o carro e por um minuto Menina olhou a criança chorando,
que, ao sentir um leve toque das mãos de sua mãe no rosto, parou de chorar. Menina
sabia que aquele seria a ultima vez que veria seu filho, então fez um pedido a
tia; Pediu para que ela falasse ao seu filho sobre ela. Que dissesse a ele que
ela o amava, e que ele nunca fora abandonado. Pediu a tia para que um dia ela o
deixasse conhecê-la. Vendo o desespero da sobrinha ela aceitou. Fez-lhe uma
promessa. E se foi.
Desde
então Dona Menina vive ali, sentada a esperar. A esperar pelo filho que nunca
veio. Não até aquele momento, mas ela sabia que um dia ele viria. Viria vê-la.
Então abraçá-lo-ia. Beijá-lo-ia. Far-lhe-ia inúmeras declarações de amor.
Esperando
pelo filho, Menina foi vivendo ali, dia após dia, todos os dias de sua vida.
Acompanhou
a morte dos pais. Dos irmãos mais velhos. E esperou.
Sempre olhando o
horizonte e a balançar. Vai e vem. Vem e vai. Sempre olhando o horizonte e a
esperar. Esperar, pelo filho amado. Único fruto de um grande e verdadeiro amor.
Único fruto, do seu amor.
E
mesmo com a iminência da morte, não conseguia sair dali.
“E
se ele viesse logo hoje – pensava – E não me encontrasse?” “Poderia achar que
eu não o amo”. “Poderia pensar que eu realmente o abandonei”.
Nada
passava na sua cabeça, além da volta do filho para os seus braços. Aquela
criatura frágil, pequena, tão indefesa. Que agora, imaginava, seria um
homenzarrão. Lindo, forte, cheio de saúde. Com uma família linda. Filhos.
Netos. Logo ele estaria ali, no seu portão. Então, este, seria o dia mais feliz
da sua vida. Mais feliz. Por isso, não podia sair dali, prometera que estaria a
sua espera. Prometera. E promessa é dívida.
Não
quebraria uma promessa. Principalmente a promessa feita ao seu filho tão amado.
De
repente, no meio daquele silêncio todo, um barulho ensurdecedor. Depois, outro.
E mais outro. O fim se aproximara. O fim da cidade. Da história. Dos sonhos. O
fim de Dona Menina estava chegando.
Então,
uma criança chega ao seu portão. Ela olha e sorri. Um sorriso lindo. Cheio de
vida. O menino abre o portão e corre para os braços de Menina, que o abraça e o
beija amavelmente.
-
Eu sabia que você viria... – diz ela aos
prantos – Eu sabia.
Outro
barulho, então, o fim! A água toma conta de tudo, sem dó, nem piedade. Em
segundos, tudo se esvai para sempre, submerso na imensidão azul de água doce.
Marc Souza
sábado, 7 de dezembro de 2013
RÁDIO MORRO
RADIO MORRO
Nos dias atuais, com o aumento da violência, e a negligencia e/ou
incompetência dos nossos governantes, que não fazem absolutamente nada para
mudar esse quadro deprimente da nossa sociedade, comecei a imaginar o nosso
futuro, que, infelizmente, apesar de todo o otimismo que tenho, em um mundo
melhor, em uma vida melhor a todos, não pude fugir da triste realidade que
infelizmente esta por vir então criei este conto.
Apesar de tudo o que esta
acontecendo nos dias atuais, espero que, o que esta sendo retratado neste conto
não passe de mera ficção.
- Boa noite amigos da Rádio Morro. Estamos aqui novamente reunidos para a
transmissão de mais um grande combate, ao vivo, entre a polícia e os
traficantes. Conosco nessa noite maravilhosa, Zé, o grande comentarista da
Rádio Morro. E aí Zé o que você espera desse grande combate?
- Boa noite Mane! Boa noite ouvintes da rádio! Bem, o que eu espero desse
confronto, aliás, um grande clássico, é o seguinte, os policia vão vim com
tudo, depois de prenderem Caco e sucessivas vitórias contra os traficantes na
cidade, eles estão empolgados e vem aqui para o morro confiantes na vitória. Já
os traficantes que estão sendo pressionados pela sua diretoria e necessitam da
vitória, vão para o tudo ou nada, pois, mais uma derrota e cabeças, com
certeza, vão rolar.
- E quem ganha o combate?
- Não sei. Prefiro ver o desenho tático de ambos os lados, para opinar.
- Obrigado Zé. Conosco nessa transmissão, Boca do Loro, maconha, craqui,
cocaína, tudo para você ficar doidão você encontra na Boca do Loro,
representante exclusivo dos produtos Colombian. Gringo Armas, onde você
encontra todo tipo de armas, de todos os calibres, legalizadas ou não, Gringo
Armas, não vá para um assalto ou acerto de contas sem antes passar na Gringo
Armas. Agora vamos com o nosso repórter Jacaré, que está no campo de batalha
esperando as equipes.
- Boa noite Mane, boa noite Zé, boa noite ouvintes da Rádio Morro, por
enquanto tudo tranqüilo por aqui. Momentos atrás estive conversando com Daco
irmão do traficante Caco e ele me disse que todos estão muito tranqüilos, bem
concentrados e confiantes na vitória, ele disse também que a libertação de seu
irmão Caco, que está preso em um presídio de segurança máxima é questão de
tempo.
- Obrigado Jacaré. Agora vamos com Vandí nosso repórter que está na
entrada do morro esperando a chegada dos policiais. É com você Vandí.
- Olá, boa noite! Aqui na entrada do morro tudo também está muito
tranqüilo, os bares ainda estão abertos, vejo algum movimento de viciados em
uma boca de fumo aqui perto, tudo normal.
- Ok! Quer ficar como o grande Raul dizia, maluco beleza, Boca do Loro,
tudo para você ficar doidão, Boca do Loro, essa eu garanto. Pode falar Vandí.
- Bem Mane, aqui na entrada do morro os bares já estão fechando, o
movimento diminuiu bastante, olha, está chegando a hora viu, daqui a pouquinho
a policia vai ta chegando por aqui.
- Ok! Seus inimigos aumentaram, você vai participar de um grande assalto,
Gringo Armas, as mais modernas armas para você, Gringo Armas.
- Mane, queria lembrar aos ouvintes da rádio que estão acabando as vagas
para o curso de roubo de cargas promovido pela Associação dos Ladrões de Cargas
do Brasil, os interessados entrar em contato com a Associação, o preço para
esse curso está bem acessível, ta legal.
- Legal. Esse curso é muito bom, participei dele o ano passado e adorei,
os professores são muito bons.E aí Jacaré, como estão as coisas aí no campo de
batalha?
- Os traficantes já estão em posição, viu Mane, armas, muitas armas,
algumas de grosso calibre estão em poder dos traficantes, olha arrisco em dizer
que as coisas serão muito difíceis para a policia hoje, pois os traficantes
estão muito bem preparados.
- A polícia chegou.
Fogos, muitos fogos.
- Vai começar o combate ouvintes da Morro.Com apresentação de Mane
Duarte, comentários de Zé, reportagens de Jacaré e do grande Vandí, Rádio Morro
a sua rádio, a nossa rádio, junto também com Gringo Armas, a última palavra em
armas e Boca do Loro, aqui o pó tem qualidade, Boca do Loro.
- A policia invade o morro Mane – diz Vandi
- E lá vem a policia pela rua direita, os traficantes estão na defensiva
esperando o ataque dos policiais, os policiais avançam rapidamente, correria na
área dos traficantes. E aí Zé, o que você acha desse combate? Quem ganha?
- Acho que vai dar empate. Os policia estão em grande número, mais acho
que os traficantes que estão na defensiva não vão dar mole, aliás, eles não
podem ter muitas baixas, pois estão enfraquecidos e se o bicho pegar pelo jeito
eles fugirão para não se prejudicarem para os próximos combates, visto que,
poderão ter reforços de alguns traficantes que estão presos no momento.
- E isso aí ouvintes da Morro. Rádio Morro, a única rádio que transmite
ao vivo as invasões da PM aos morros da nossa cidade, total cobertura
jornalística do maior evento da cidade, junto com Gringo Armas e Boca do Loro.
E lá vai a polícia pelas vielas do Morro, estão armados até os dentes e
procuram pelos traficantes que estão escondidos em seu campo de defesa. Tiros,
tiros, a batalha começa ouvintes da Morro, os tiros vem de todos os lados. Ta
lá um corpo estendido no chão. E aí Jacaré, é de policial ou traficante?
- Bem Mane daqui onde estou parece que é um policial, mas preciso chegar
um pouco mais perto para confirmar, agora o tiroteio é muito constante e não dá
para sair daqui, mas assim que der confirmarei para você e para os ouvintes da
Morro, olha tenho quase certeza que é policial.
- Obrigado Jacaré. Rádio Morro, a sua melhor opção em rádio. Continua o
combate, os tiros vêm de todos os lados, correria, as portas dos barracos estão
fechadas, policiais e traficantes transformaram o morro em grande campo de
guerra, daqui vejo outros corpos, algumas pessoas estão feridas, está um
verdadeiro caos. E você Vandí, quais informações você tem para os ouvintes da
Morro.
- Bem Mane, o bicho realmente está pegando aqui em baixo, várias baixas
em ambos os lados, muitos feridos, um caos, um verdadeiro caos.
- Policia no morro é só aqui, com exclusividade, num oferecimento de
Gringo Armas e Boca do Loro. Venha para a Morro você também, Rádio Morro a
rádio da cidade.........
- Bem amigos da Morro estamos terminando mais uma super transmissão do
combate entre traficantes e policia, hoje deu empate, algumas baixas de ambos
os lados, mas, todos sabemos faz parte do espetáculo, logo, logo, voltaremos,
eu, o Zé, o Vandi e o Jacaré para mais uma transmissão ao vivo de mais uma
invasão do morro, lembrando que sempre com Boca do Loro, cocaína, craqui,
maconha, tudo para você ficar doidão você encontra na Boca do Loro e também com
a Gringo Armas, não vá para um assalto sem antes passar na Gringo Armas, a
última palavra em armas.Um grande abraço e uma boa noite.
É
meus amigos, só nos falta essa.
Marc Souza
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
VIDAS MORTAS
A única gota d’água que aquela terra recebera nos últimos meses, foram as
lágrimas dos seus olhos. Lágrimas de tristeza, de sofrimento. Lagrimas de não
sei o quê. Seus últimos anos foram
marcados por muito trabalho. Muito trabalhou, muito plantou, mas, a chuva não
veio e as lágrimas que jorraram dos seus olhos, apesar de não terem sido
poucas, não foram suficientes para molhar a terra dura e seca do lugar.
Ao olhar em volta, teve a certeza, de que, mais uma vez, tudo estava
perdido. Não houve uma semente sequer, que não sucumbira diante da estiagem.
Nada brotou, nada cresceu, nada floresceu. Tudo simplesmente se perdeu,
inclusive a esperança, que apesar de ser molhada com o suor do seu trabalho e
com as lágrimas de esperança, também não brotou, sucumbindo à seca.
Ajoelhado sobre a terra dura e seca, como se fosse fazer uma oração, chora.
Chora a falta de água, a falta de comida, a falta de esperança. Chora a falta
de fé. Fé que se foi junto com a esperança de dias melhores. Com a esperança de
um futuro melhor para ele, e para a sua família.
À sua volta só há tristeza e desolação, não há qualquer resquício de vida,
até os carcarás foram embora, voaram para longe em busca de comida. Neste
momento tenta se lembrar de quando vira pela última vez um teiú, ou um pássaro
qualquer, mas, não consegue, sabe que, os
que não morreram de fome ou sede, também deixaram aquele local para tentarem
sobreviver.
De onde ele está, consegue ver os filhos brincando, alheios a tudo,
brincando diante da casa de taipa, coberta de folhas de palmeiras. Brincam, com
o cachorro abelha, um vira-lata tão magro, mais tão magro, que sequer, agüenta com
o peso da própria cabeça, e, com seus brinquedos improvisados, feitos de
madeira, barro e restos de quaisquer coisas que pudessem encontrar. Estão
felizes. Correm, gritam, sorriem. Os meninos, três, estão magros e barrigudos. Suas
roupas velhas se resumem há, um calção e uma camisa, todos muito castigados
pelo tempo, velhos que só, mais velhos até que eles mesmos. Mas, estão felizes,
afinal, nada conhecem além da miséria em que se encontram.
Quanto a ele, apesar de ter nascido e crescido naquele lugar, esta
cansado. Cansado de viver. Cansado de sonhar.
Sonhar com a chuva no momento certo. Sonhar com uma verde e bela
plantação. Sonhar com fartura na mesa. Sonhar com uma vida melhor, vida esta,
que nunca veio. Só ficou nos seus
melhores sonhos. Aqueles do passado, de quando ainda conseguia sonhar. Para
ele, tudo se perdeu. Os sonhos, a esperança, a vida. Não há mais razão para
lutar, não ali. Não mais.
Por muito tempo viveu de sonho e reza. E como rezou. Toda a noite rezava,
implorava para que a chuva viesse no tempo certo, trazendo consigo força e saúde
para sua lavoura. Que viesse trazer água para seus animais, água para a sua família.
Água limpa e saudável. Mas, apesar de tanta reza a chuva não veio. Nada molhou,
nada brotou, nada viveu, tudo se perdeu.
Sabia que a falta da chuva, não era culpa de Deus ou da sua falta de fé, afinal,
apesar de todas as dificuldades que passou comida à mesa nunca faltou, a Providencia
Divina sempre se fez presente, mas, agora, estava muito cansado, muito triste, muito
infeliz. Não queria mais esperar. Não queria mais perder. Não aceitava mais
perder. Não queria mais viver na miséria. Queria mudar sua vida, não só a sua,
mais a vida de toda sua família.
Por isso tomara uma decisão, no entanto, o que poderia lhe trazer esperanças,
naquele momento trazia-lhe somente medo e insegurança. Sabia das agruras em que
vivia, mas as incertezas do futuro o amedrontavam. Ajoelhado na terra firme e
seca, olhou para o céu e viu somente o sol brilhando forte, onipotente, não viu
uma nuvem sequer, nenhuma brisa soprou o seu rosto, sentiu somente um mormaço, um
calor quase que insuportável. Um calor que, destruía aos poucos sua vida, um
calor que destruiu por completo suas esperanças. Por isso, iria embora. Deixaria
todo aquele sofrimento para trás. Deixaria aquela vida cheia de privações e
provações.
Deixaria, para sempre seu lar. O único lugar que conhecera como lar em
toda a sua vida. Onde estavam as suas raízes, a sua vida. Mas sabia também,
que, se demorasse muito tempo ali, suas raízes ficariam fracas e secas, e
também sucumbiriam diante da seca. Como sua plantação, como seus animais.
As incertezas quanto ao seu futuro o incomodavam. Várias perguntas sem
respostas povoavam a sua mente, deixando-o muito apreensivo.
Como seria o seu futuro? O que o esperava nessa nova etapa de sua vida? Mais
sofrimentos? Mais privações? Mais provações?
A verdade, era que ele queria somente uma coisa: Dar uma vida melhor para
seus filhos, para sua esposa e para si mesmo. E, esta mudança poderia ser o
inicio de tudo. Poderia!? Talvez!? Nada era certo. O presente, o futuro. Nada.
Mas, ele tinha que começar de alguma maneira. Força e vontade de trabalhar
nunca lhe faltaram. Nunca.
Vendo os restos dos animais mortos pela seca que estavam à sua volta, mortos
pela falta de comida, velhas carcaças espalhadas pela terra sem vida, transformando
o local em um cemitério aberto no meio do nada. Vendo as arvores secas, sem
vida e restos secos da vegetação que completavam a triste paisagem, rezou. Pediu
proteção a Deus, ao “Padim Cícero” e, chorou novamente. Chorou por aqueles que
já haviam partido daquele lugar, por aqueles que ficariam ali a sofrer, a
rezar, a plantar sonhos e esperanças, sabendo que nunca hão de colher qualquer
um dos dois. Chorou por ele e por sua família. Chorou por sua vida.
Depois, apoiou as mãos no chão e beijou aquela terra morta, demonstrando todo
seu amor por ela. Se despedindo para sempre daquele chão feio e ao mesmo tempo,
para ele, tão belo.
Ao levantar viu sua mulher, que, na porta de casa, observava a tudo, em um
silêncio impassível. Ao perceber que ele a vira, ela entrou. Ele sabia que ela
também sofria com todas as incertezas e privações em que viviam, mas nada
dizia, nunca, simplesmente aceitava “seu destino”, em silêncio.
Olhou à sua volta pela última vez procurando absorver cada detalhe, cada
sensação daquele lugar, mesmo as mais desagradáveis, para que não as esquecesse
jamais, pois, sabia que dificilmente voltaria ali e que logo, tudo aquilo não
passaria de lembranças. Somente lembranças. Lembranças do que foi. Lembranças
do que poderia ter sido.
Após esta “cerimônia”, foi até seus filhos, beijou-os um a um e os abraçou
juntos, tornando-se um só corpo, um só coração, uma só vida. Sua mulher foi até
eles participando do grande e terno abraço. Agora, não eram mais cinco pessoas,
cinco vidas, mas, um só corpo, unidos pelo amor mutuo. Depois disso, entraram
todos na casa simples, onde, após se lavarem na água suja e barrenta, fizeram a
última refeição antes da partida: caldo de feijão e farinha mandioca. De
barriga cheia, rezaram com fé, e foram dormir, afinal, antes mesmo de o sol
nascer, partiriam dali, para sempre, em busca de uma vida nova, em busca de
novas oportunidades, encontrando, talvez, a tão sonhada felicidade.
Marc Souza
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