DESABAFO DE UM SER INVISIVEL
Eu
estou aqui. Sei que você não me vê. Ou não quer me ver. Mas, por mais que você
não queira me ver. Por mais que você me ignore. Eu não deixarei de existir.
Não
deixarei de te observar. De analisar seus costumes. De analisar a sua vida.
Por
mais que você não queira, eu estou aqui. Sempre estarei.
Posso
mudar de lugar. De cidade, mas, virá outro em meu lugar. Outro que fará tudo o
que eu faço. Da mesma maneira que faço. Pois, nós existimos.
Vivemos.
Sofremos. Choramos. Sorrimos.
Somos
como você. Apesar de você não achar. Apesar de querer acreditar que não somos
iguais.
Querendo
ou não. Somos iguais. Somos da mesma espécie.
Você
me ignora. Me ofende. Me machuca. Me deseja o mal.
Diz
que sou um problema.
Do
alto do seu prédio. Atrás dos muros da sua casa. Ou, por trás dos vidros
escuros do seu carro. Você me teme. Tem medo de mim. Do que eu possa a lhe a
fazer.
Eu
não sou um problema.
Sabe,
eu nem queria estar aqui. Sofrer com a chuva. Com o sol. Sofrer com o frio.
Você
sabe o que é passar frio?
Não,
com certeza não.
Eu
queria estar no conforto de uma casa. Protegido das intrepérides do tempo. Da
polícia. Das pessoas mal intencionadas, que me matam. Que me ferem. Como seu
não fosse nada. Como seu eu fosse um animal. Sabe, eu não consigo fazer mal
algum a qualquer animal. Por mais, feio e peçonhento que seja.
Eu
queria estar em um lugar que me protegesse, principalmente, do seu preconceito.
Preconceito
que me ignora. Que me culpa de uma situação a qual eu não tive escolha.
Agora
neste exato momento que você sobe os vidros escuros do seu carro. Fingindo não
me ver, pense só um minuto:
Você
poderia estar aqui, no meu lugar. Com fome. Com sede. Doente.
Ou,
simplesmente, invisível.