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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
Escritores recorrem à vaquinha virtual para publicarem seus livros
- DivulgaçãoO escritor Waldyr Imbroisi, que financiou seu livro por meio do coletivo Catarse
Apesar de grandes chavões como "ninguém lê no Brasil" e "a literatura não dá dinheiro", o sonho de muita gente ainda é lançar um livro. Contudo, ter sua obra publicada por uma editora já consolidada permanece sendo um caminho difícil de trilhar, que em alguns casos requer anos de insistência. Outra via é a autopublicação ou as editoras que cobram para colocar qualquer tipo de livro no mercado, entretanto, nesse caso, o escritor terá que tirar dinheiro do seu bolso para que sua arte ganhe vida.
Agora, uma terceira via que anda fazendo sucesso em diversos segmentos no Brasil começa a também ser explorada pela literatura: a "vaquinha virtual"). A proposta é simples: o escritor disponibiliza sua ideia em um site, explica o seu projeto, apresenta todos os custos envolvidos e oferece cotas de patrocínio para que pessoas que sentirem afinidade com o texto possam lhe ajudar. As recompensas para os mecenas de nossos dias podem ser diversas, mas sempre incluirão um exemplar da obra, é claro – ou seja, a venda é feita antes de o produto de fato existir.
O escritor Kadu Lago recorre há tempos a essas vaquinhas, desde muito antes de virarem uma tendência. Ainda em 2010, em uma comunidade do Orkut, levantou aproximadamente oito mil reais para lançar o seu romance "Confissões ao Mar", com cada interessado contribuindo com ao menos cem reais e recebendo três exemplares como recompensa.
Já em 2014, para lançar a quarta edição da obra, recorreu ao Bookstart, site especializado em financiamentos coletivos para livros. Com cotas que iam de R$ 15 (em troca de uma versão digital da narrativa) a R$ 1500 (para quem quisesse ter sua marca impressa em todos os exemplares da edição), conseguiu, com 88 apoiadores, arrecadar R$ 8.440.
Vender essas cotas, aliás, é a parte mais difícil da empreitada, segundo Kadu. "Você pode montar o melhor projeto possível, se não tiver um ótimo relacionamento na rede, vai ficar difícil levantar a campanha, que, seja onde for, não acontece sozinha. Não dá para criar um projeto, jogar na internet e ficar esperando ele acontecer. Você é responsável por fazer com que ele aconteça", diz o escritor.
DivulgaçãoVocê pode montar o melhor projeto possível, se não tiver um ótimo relacionamento na rede, vai ficar difícil levantar a campanha, que, seja onde for, não acontece sozinha. Não dá para criar um projeto, jogar na internet e ficar esperando ele acontecer. Você é responsável por fazer com que ele aconteça.Kadu Lago, escritor
O Bookstart, site ao qual Kadu recorreu para lançar a quarta edição de seu livro, surgiu em 2014 e pretende, ao longo dos próximo meses, publicar entre 20 e 25 obras por mês por meio de financiamento coletivo, com uma venda de pouco mais de mil exemplares mensais.
"Temos, atualmente, no mercado editorial, exemplos de autores brasileiros que deram certo não apenas pela qualidade de seus trabalhos, mas sobretudo pela carência que nossos leitores sentem falta de boas obras produzidas aqui", diz Bernardo Obadia, sócio-diretor da empresa, ao argumentar sobre a iniciativa. "Acreditamos que a fama de que brasileiro não lê está no passado e tende a ser cada vez mais suplantada por uma realidade que já está acontecendo", continua.
Obadia explica que a empresa tem uma equipe que oferece serviços desde a avaliação do manuscrito até o auxílio com as campanhas de marketing, preocupando-se com todas as etapas do processo para que o livro chegue com qualidade ao leitor.
O sócio-diretor entende que a Bookstart é uma via para que originais muitas vezes ignorados pelas grandes editoras possam, enfim, receber atenção e, talvez, em um segundo momento, de acordo com o sucesso do livro, atrair justamente as editoras maiores. "Uma de nossas competências essenciais é a eficiência em custo, ou seja, precisamos ter um bom planejamento de mídias para fazer com que o projeto atinja a meta o mais rápido possível".
Realização de um sonho
Provavelmente o site de financiamentos coletivos mais conhecido e utilizado no país, o Catarse conta com duzentos projetos finalizados em Literatura, sendo que, apenas em 2014, foram 53 – contra 24 de 2013 e 14 dos anos anteriores. Isso mostra o grande aumento da tendência, que já colocou a categoria como a quarta com o maior número de inscrições na plataforma.
De todas essas iniciativas, 46% obtiveram exito no financiamento e mais de 13 mil pessoas contribuíram para os projetos, reunindo um montante superior a R$ 1,1 milhão, distribuídos entre requisições modestas, como os 905 reais levantados pelo "Poensamentos", até cifras bastante respeitáveis, como os 53.470 reais reunidos em torno de "Jovem o Suficiente – O Livro".
Com um objetivo intermediário, Waldyr Imbroisi conseguiu juntar pelo Catarse R$ 7.174 para viabilizar o lançamento de "Orquidário", seu livro de contos. O escritor diz que durante o processo descobriu uma outra vantagem do sistema. "O financiamento coletivo garante uma divulgação prévia do livro e uma espécie de pré-venda; ao fim do meu projeto, mais de duzentos exemplares já possuíam comprador".
Para que conseguisse alcançar a meta desejada, Imbriosi apostou em divulgação pelo seu blog, Facebook e centenas de mensagens privadas enviadas a conhecidos, além de um vídeo postado no Youtube. Conta que, ao longo da trajetória, o mais difícil foi saber o modo de divulgar o livro, "para não dar um tom de exigência nem de pedido desesperado". O desprendimento também foi primordial. "Tive que aprender a olhar minha obra como algo em que vejo qualidade, mas que as pessoas podiam gostar ou não, ajudar ou não. Só assim consegui divulgar de uma maneira em que, acredito, não foi chata nem excessiva".
Se valeu a pena? Financeiramente, não – ainda ao menos. Apesar do financiamento coletivo amenizar os gastos, as despesas que envolvem todo o processo superam o quanto recebeu com as ajudas. "A única esperança de um escritor ganhar dinheiro no Brasil é a longo prazo, consolidando uma obra de qualidade através dos anos. Não vale a pena entrar nesse caminho pensando pelo lado financeiro", diz.
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